maniático

Olá, professor! Você poderia me esclarecer uma dúvida? Acabaram de me falar que a palavra maniático não existe. Fui conferir em alguns dicionários e realmente não a encontrei. Neles constava apenas o termo maníaco. Considerando também o uso corriqueiro da palavra maniático, pergunto se é errado usá-la, pois — ao menos para mim — ela parece ter um sentido mais específico, enquanto maníaco parece se estender a vários outros casos. Obrigada pela atenção.

Uda Schwartz

Minha cara Uda: realmente, o vocábulo maniático, que é largamente empregado no Espanhol, parece estar fazendo falta por aqui, pois serve para designar a pessoa que tem lá as suas manias, seus hábitos idiossincráticos, mas inofensivos, distinguindo-se, dessa forma, do maníaco, usado em sentido técnico pelos profissionais da área Psi. 

O problema desses dois vocábulos começa com a mãe deles, a palavra mania — literalmente “loucura”, no Grego. Esse significado continua vivo na Medicina e na Psicologia; é por isso que se fala de uma psicose maníaco-depressiva e que se internam psicopatas no manicômio (foi pelas manias que o imorredouro Simão Bacamarte, de Machado de Assis, acabou enchendo a Casa Verde com seus parentes e vizinhos). Com o tempo, contudo (o Tempo é o senhor da Linguagem – é bom não esquecer!), mania saiu do vocabulário exclusivamente científico e vulgarizou-se na linguagem corrente, passando a denominar apenas aqueles hábitos, esquisitos ou não, que fogem um pouco do usual: (1) Nada de mais em tomarmos café numa xícara; Fulano, contudo, tem a mania de só usar um copinho do Requeijão Tabajara. (2) Ela tem a mania de folhear o jornal do fim para o começo. (3) Ele tem a mania de tirar o som da TV e ouvir a transmissão do jogo pelo rádio.  

Mesmo na linguagem usual há novas distinções a caminho. Maníaco é a forma preferida para “gostar de alguma coisa, ser louco por ela”: eu sou maníaco por doce de leite. Maniático vai entrando no Português para designar “aquele que é cheio de manias, cheio de nove horas”: ela desistiu do namoro porque ele era muito maniático. Se o vocábulo não está ainda em nossos dicionários, isso não quer dizer que ele não exista, Uda. Centenas de palavras que empregamos não estão lá, também (o Houaiss tem um pouco mais de 240.000 registros, enquanto se estima o léxico do Português em quase 600.000 itens). A vantagem de “estar no dicionário” é que isso elimina qualquer necessidade de justificar o emprego de um vocábulo, enquanto o uso dos que “ainda não estão” pode ser contestado por algum boi-corneta. Avalia bem a situação em que vais empregá-lo e manda bala. Abraço. Prof. Moreno