concordância com o sujeito deslocado

Parece mentira, mas uma banal alteração na ordem dos elementos da frase provoca um dos erros mais comuns de concordância verbal

 

Falta só dois reais“, diz o rapaz da livraria, enquanto procura nos próprios bolsos o troco que não tinha no caixa. Levanto os olhos para ele e hesito; uma vida toda como professor de Português me deu uma grande sem-cerimônia em corrigir o que os outros falam de errado, mas a experiência também me ensinou que nem todos aceitam de bom grado uma lição gratuita. Recebo as duas moedas e me afasto, pensando que, ao menos, nem tudo estava perdido, já que ele não disse o  *dois real de sempre. Eu compreendo o que ocorreu: tenho certeza de que o balconista sabe (conscientemente ou não, ele sabe) que o verbo deve combinar com o sujeito, nesse fenômeno que chamamos de concordância. Não se trata de caprichar a linguagem que ele está usando; é muito mais profundo. Ele nasceu dentro dessa língua e dentro dela virou gente; logo, este princípio está gravado tão claramente em algum ponto de seu sistema nervoso quanto os comandos que permitem que ele alterne os pés para caminhar para a frente. Ora, como é que algo tão elementar e fundamental pôde ser desconsiderado, a ponto dele usar *falta em vez de faltam? É muito simples: ele  não   “enxergou”  o sujeito.

Talvez esta seja a maior fonte de erros de concordância no Português. Estamos acostumados a encontrar  o sujeito no começo da frase; quando ele é deslocado para uma posição À DIREITA do verbo, é muito provável que o  confundamos com os complementos. Quando escrevemos, com todo aquele tempo que temos para refletir e revisar, um exame um pouco mais detalhado da estrutura identifica o sujeito; a maioria das pessoas, contudo, deixa de fazê-lo, cometendo esse tipo de erro. Veja os exemplos abaixo, todos com erro de concordância; como as expressões em destaque são o SUJEITO da frase, o verbo deveria estar no plural em todas elas:

* No ano passado teve início as conferências.
* Foi anunciado, em São Paulo, os nomes que compõem o Ministério.
* Ficou provado, desta forma, as tentativas de suborno.
* Espero que seja explicado para todos nós as razõe de sua atitude.

Este erro é ainda mais freqüente com aquele pequeno grupo de verbos que normalmente têm o sujeito à sua direita: EXISTIR, OCORRER, ACONTECER, FALTAR, RESTAR, SOBRAR, BASTAR, CABER. Entre os exemplos abaixo, em que os elementos em destaque são o SUJEITO da frase, encontramos o erro de nosso balconista:

Faltam dois reais.
Existem aí coisas horríveis.
Bastam dois comprimidos.
Sobraram três fatias.
Ocorreram fenômenos inexplicáveis.

Após o Acordo: freqüente > frequente

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