linguagem infantil

Prezado Professor: existe alguma razão para que os apelidos carinhosos geralmente se componham de duas sílabas repetidas, como Zezé? Obrigada.

Aninha G. Fazendinha (AP)

Minha cara Aninha: em geral, esses apelidos recebidos em família estão ligados à linguagem infantil; cabe a uma criança da casa modificar o nome dos seus parentes ou o seu próprio, reduzindo-o a uma forma mais pronunciável, mais adequada ao seu ainda inexperiente aparelho da fala. Não precisas ser uma lingüista para perceber que esses pequenos entezinhos falantes têm grande preferência por um padrão bem definido: eles simplesmente reduplicam a estrutura silábica mais comum do Português (CV — i. é, uma consoante seguida de uma vogal): Zezé, Lili, Juju, Mimi, Lulu, Dadá. O mesmo processo está presente nas primeiras palavras que nossos brasileirinhos pronunciam (e que todas as avós se apressam a adotar, no seu diálogo com os pequeninos): cocô, pipi, naná, papá, xixi, totó, babá, bebê. 

Esse curioso padrão reduplicativo aparece em outras áreas de nosso vocabulário. Primeiro, em várias palavras importadas, como beribéri, tsé-tsé, chachachá, cancã, dumdum, mau-mau, pompom, cuscuz, frufru, hula-hula, ioiô. Um segundo grupo são os vocábulos formados por onomatopéia (os fonemas da palavra mais ou menos imitam o som do que está sendo designado): zum-zum, lero-lero, reco-reco, tico-tico, quero-quero, lufa-lufa, lengalenga, cricri, fonfom. Por fim, temos também um tipo especial de reduplicação, que constrói vocábulos compostos pela repetição da mesma forma verbal: mata-mata, quebra-quebra, pega-pega, puxa–puxa, rala–rala.

Como sobremesa, lembro-te que há muitos lugares neste planeta com o nome reduplicado; muitos são obscuros lugarejos ou rios na África ou na Ásia, mas outros estão entre os nomes mágicos do turismo: Baden-Baden, Bora Bora, Pago Pago. Nome duplo é um luxo! Abraço. Prof. Moreno

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