heureca

Conta a lenda que Arquimedes, o famoso sábio de Siracusa, ao entrar na tina em que tomava banho e atentar, pela primeira vez, para a mudança que isso causava no nível da água, teria formulado o princípio do deslocamento de um líquido com relação ao corpo nela mergulhado. Esse insight teria sido a solução de um problema que o afligia há muito: segundo uns, o princípio da flutuação dos navios; segundo outros, a maneira de averiguar se o ourives, tido como desonesto, havia usado realmente as quantidades de ouro e prata que o rei Hieron lhe entregara para fundir uma coroa. Diz a lenda que o sábio teria saltado entusiasmado do banho, gritando heureca, heureca — a 1ª. pessoa do singular do pretérito do verbo heurisko (em Grego:”achar, descobrir”). Ou seja, se falasse Português, ele estaria gritando (o que seria bem adequado) “Achei, achei!”. Esse brado de alegria de quem chegou finalmente à solução de um problema longamente trabalhado passou a ser uma exclamação de uso universal para celebrar essas ocasiões.

O verbo heurisko traz, em Grego, um sinal chamado espírito áspero, que indica quando a vogal deve ser aspirada. Vocábulos assim foram transliterados, tanto para o Latim quanto para o Português, com um H inicial: hora, harmonia, Helena, Homero, etc. Por fidelidade a esse princípio consagrado, o Aurélio, embora registre tanto eureca quanto heureca, indica como preferível esta segunda forma, no que anda muito bem, pois mantém coesa a grafia de uma interessante família etimológica. Afinal, heureca é irmã da heurística, “capacidade de resolver problemas” (o que a língua popular tenta expressar, talvez, com o famoso “solucionática”) e do heurista (alguém que tem mais desenvolvida essa capacidade). Como se viu no filme Apolo 13, a Nasa sempre mantém na base, durante os vôos espaciais, um banco de heuristas (físicos, psicólogos, engenheiros, médicos, desenhistas, mecânicos, etc.), selecionados por sua maior rapidez em encontrar soluções para os imprevistos que sempre surgem nessas missões.