quê?

Caro professor: na frase “Tudo o que você põe na sua casa, menos o cansaço”, este que deve ser acentuado? Sei que, no final da frase, ele tem acento (“Não sei bem por quê“), mas nesse caso fiquei em dúvida… Muito obrigada! Sua aluna virtual. Sandra Ambrosio

Minha cara Sandra: este “que” não tem acento. Sabes que esta partícula — seja ela pronome, seja conjunção — é apenas um monossílabo átono, assim como se, lhe, me, etc., escapando, portanto, à regra de acentuação. Para que ela receba o circunflexo, é indispensável que ela se torne tônica, passando então a fazer parte daquele grupo integrado também por lê, você, dê, vê, entre outros.

Essa mudança na tonicidade vai ocorrer em duas situações: em primeiro lugar, quando o “que” se encontra no final da frase (refiro-me à FALA, não à escrita) :

— Obrigado! Não há de quê.

— Não há de quê, amigo.

— Você está falando do quê?

— Quero pagar, mas não tenho com quê.

Em segundo lugar, quando o “que” se tornar um substantivo (admitindo, nesse caso, o plural). Isso acontece quando ele passa a ser o núcleo de um sintagma, precedido daqueles vocábulos que habitualmente acompanham os substantivos: artigos, pron. possessivos, pron. indefinidos adjetivos, pron. demonstrativos adjetivos:

— Ela tinha UM quê de fascinante.

— Esta cidadezinha tem lá OS SEUS quês.

No entanto, em frases como “tudo o que você fez”, “não sei o que queres”, este O não é um artigo, mas um pronome demonstrativo substantivo (equivalente a aquilo: tudo aquilo que você fez), que não vai alterar a tonicidade do “que”.

Um antigo gramático sugeria a seguinte maneira prática de distinguir o que tônico do átono: quando ele é átono, o falante pode pronunciá-lo como /kê/ ou /ki/ (com preferência esmagadora pela segunda forma); quando ele é tônico, só pode pronunciá-lo como /kê/. Seguindo esse útil critério, o fato de podermos dizer “tudo o /ki/ você fez” reforça o que já sabíamos: esse “que” é átono.

Detalhe: quando o vocábulo estiver substantivado em metalinguagem — isto é, quando estivermos falando dele, como ocorreu várias vezes nas linhas acima —, não devemos acentuá-lo, mas grifá-lo ou colocá-lo entre aspas, como fiz. Abraço. Prof. Moreno