palavras que perderam a noção de composição

Olá, professor Cláudio! Sou formanda de Letras e tenho dúvida quanto a um item da Reforma Ortográfica: quando se considera que uma palavra perdeu a noção de composição? Como posso identificar os casos em que isso ocorreu? Por exemplo, bate-boca. Aqui foi perdida a noção de composição porque se tornou uma expressão? É uma questão semântica? Não entendi essa explicação para o não uso do hífen. Por favor, professor, se puder me ajudar, ficarei grata.

Raquel G. — Santa Maria (RS)

Raquel, chegaste ao nervo deste confuso Acordo: como saberemos se os falantes perderam ou não a consciência da composição de um vocábulo? Quem vai decidir quais os vocábulos que entram nesta lista? Como se pode obedecer a uma regra tão vaga e tão fluida, redigida cabalisticamente, que abrange “certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição”. Certos compostos? Em certa medida? Que portento! Nem consigo imaginar o esforço necessário para chegar a tamanha imprecisão usando tão poucas palavras!

Para mim, aliás, a composição de para-quedas continua bem consciente, ao contrário do que alegam as “sumidades” que assumiram o poder na República da Ortografia. Quantos concordariam comigo, quantos discordariam? Quem é que vai saber? Esta regra é o dedo que revela o gigante, isto é, revela a prepotência dos autores deste Acordo e prova que eles, como eu sempre vou afirmar, não são do ramo. Não conhecem Lingüística, não conhecem nosso idioma e nâo têm a menor noção de como funciona a mente dos falantes. Pobre Brasil! Abraço. Prof. Moreno

1 — Escreve Luciana R., de Salvador:

Olá, professor! Sou bióloga, mas faço questão de escrever corretamente. Pesquisei bastante em seu site, mas não obtive a informação que procuro. A nova ortografia promete deixar o uso do hífen mais lógico, mas eu não entendi muito bem aquela parte que fala de certos compostos que perderam a noção de composição —”girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.”. Este “etc.” é o problema: como vou saber se a noção de composição também foi perdida em outros vocábulos?

2 — Aninha, de Piracicaba (SP):

Caro professor, estamos em dúvida quanto ao uso do hífen na nova ortografia. Em alguns dicionários encontramos a palavra parachoqueparaquedas juntos, em outros para-choquepara-quedas. Qual é o certo? Lembramos que no programa do Caldeirão do Huck, no Soletrando, a palavra para-choque foi soletrada com hífen. No dicionário Michaelis, contudo, está escrito parachoque, paraquedas. Qual o correto? Ajude-nos, por favor.

Prezadas leitoras: como vocês têm, no fundo, a mesma dúvida, acho que posso responder às duas numa só mensagem. Concordo com a Luciana: aquele “etc.” colocado ao final da lista de exemplos é a coisa mais desastrada que eu já vi no texto de um Acordo Ortográfico. Quem é a divindade que vai decidir quais são os vocábulos cuja composição deixou de ser percebida pelos falantes? O silêncio da Academia sobre este ponto vai estimular o aparecimento de listas de todo o tipo, já que temos, no Brasil, tantas “autoridades” sobre o idioma quanto candidatos a técnico da seleção canarinho. Ao contrário do que se deveria esperar, a Reforma vai aumentar ainda mais a hesitação sobre a grafia correta dos compostos — a começar pelos casos que eles relacionaram expressamente no texto, pois a composição de para-quedas, para mim, ainda está bem visível…

Além disso, ao deixar a enumeração em aberto, a regra tornou-se uma fonte inevitável de discórdia entre os dicionários. A nova edição de bolso do Aurélio e do Houaiss já nos forneceu uma prévia do que vem por aí: o primeiro incluiu no “etc.” paralama, parabrisapararraio, parachoque, seguindo o modelo de paraquedas; o segundo só tirou o hífen de paraquedas, conservando-o nos outros. Resultado: os dois dicionários se tornaram inconfiáveis, porque ambos, apesar de anunciar que já seguem a nova ortografia, divergem nestas e em muitas outras palavras. Abraço. Prof. Moreno

Veja a regra aqui

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