As palavras relacionadas ao livro escondem interessantes detalhes sobre a sua história e sobre os diferentes materiais que foram empregados na sua confecção. A começar pelo próprio nome: o termo livro veio do Latim liber, aquela fina camada fibrosa que fica entre a casca e o tronco da árvore. Depois de seca, podia ser usada para escrever, mas seu tamanho exíguo e sua forma irregular limitavam em muito a sua utilidade.
papel — Os egípcios, sempre engenhosos, aperfeiçoaram a idéia, conseguindo produzir folhas muito mais flexíveis e regulares a partir das fibras de uma planta aquática abundante na região do Nilo, o papiro, de onde também proveio o termo papel. Depois de removida a casca verde exterior, o caule macio do papiro era cortado em tiras muito finas, que eram dispostas verticalmente, lado a lado, sobre uma superfície lisa; sobre elas era disposta uma nova camada, com as tiras em sentido horizontal. O conjunto era molhado com a água do Nilo e ficava secando por três semanas, sob pressão; a seiva da planta agia como uma cola, unindo as tiras entre si e produzindo uma folha compacta, que era depois alisada e aparada em dimensões regulares. Este foi o material mais usado nos livros do Egito, da Grécia e de Roma.
biblioteca — Biblos era o nome grego para o papiro, que era importado principalmente da cidade de Biblos, na Fenícia. Os livros escritos neste material eram chamados pela forma diminutiva biblion, de onde se deriva o vocábulo biblioteca — o termo teca designa o lugar onde se guarda alguma coisa, presente também em cinemateca, mapoteca, etc. Dele também proveio a bibliografia, o bibliófilo e a Bíblia (conjunto de livros sagrados).
volume — As folhas de papiro eram coladas umas nas outras, formando uma longa tira de vários metros de comprimento, que era enrolada em hastes de madeira ou de marfim para facilitar o transporte e manuseio. O nome dado em latim para este rolo de papiro era volumen, derivado do verbo volvere (enrolar). O texto, escrito em colunas estreitas, numeradas sucessivamente, era passado de uma haste para a outra, mais ou menos como uma fita de gravador passa de um carretel para o outro. Lembranças dessa prática ficaram em expressões como “o desenrolar da história”, “explanar um assunto” (isto é, tornar plano, esticar o rolo do livro) ou “explicar uma questão” (de explicare, desdobrar).
pergaminho — Por volta do séc. III a.C., quando o Egito embargou a exportação de papiro, desenvolveu-se no reino de Pérgamo uma nova técnica de preparar o couro para material de escrita. O pergaminho era feito de couro de cabra ou de ovelha, curtido, lavado e raspado cuidadosamente com lâminas especiais e pedra-pomes, e em seguida branqueado com gesso ou cal. Depois de aparado, obtinha-se assim uma grande folha de escrever, de excelente qualidade e durabilidade, mas de custo muito maior que o do papiro. Plínio, o Velho, relata que o pergaminho era embebido em substâncias vegetais amargas ou venenosas, a fim de desencorajar o apetite dos ratos, que eram grandes apreciadores do material.
palimpsesto — Vem do grego palim (“de novo”) e psestos (“raspar”). São pergaminhos que foram reutilizados, depois de se apagar o texto primitivo. Para remover a tinta, bastava lavá-los com uma solução alcalina e poli-los mais uma vez com pedra-pomes. Do ponto de vista prático, era muito mais rápido e econômico reciclar um pergaminho usado do que fabricar um novo. Felizmente os processos empregados não conseguiam remover totalmente o pigmento da tinta do texto primitivo, permitindo que aparelhos modernos de radiografia e de infravermelho “leiam” o que está escrito por baixo do texto atual. Por exemplo, foram descobertos, debaixo das inocentes páginas de um livro de rezas, vários textos inéditos de Arquimedes sobre Matemática, de valor inestimável.
códice — O uso das folhas de pergaminho tornou obsoleto o livro em forma de rolo e permitiu o aparecimento do códice, o livro na sua forma atual, em que as folhas são costuradas ou grampeadas em forma de caderno, como qualquer livro ou revista que você conhece. Para designá-lo, aproveitaram o termo codex (“bloco de madeira”), que já era usado para designar um pequeno conjunto de tabuinhas enceradas, sobre as quais se escrevia, unidas por um fio ou um cordão — como se vê, com um funcionamento muito parecido com a nova invenção. No códice, ao contrário do livro em rolo, pode-se escrever na frente e no verso das folhas; além disso, ele permite ao leitor folhear a obra, abri-la na seção que quiser, comparar passagens; em suma, permite uma leitura seletiva, sem a obrigação de ser contínua. Um conhecido derivado deste termo é o nosso código, no seu sentido tradicional de compilação de leis e de normas.
enciclopédia — Para muitos, o termo simplesmente designa uma grande coleção de livros encadernados, com verbetes em ordem alfabética. Em grego, a expressão encyclos paideia (de encyclos, “circular, geral” + paideia, “educação”) referia-se ao ensino completo e panorâmico das artes e das ciências, considerado indispensável para a formação de verdadeiros cidadãos. Contudo, os copistas do Latim medieval pensaram equivocadamente que a expressão fosse uma palavra única, adotando-a como título de uma obra de referência que tratava de todos os campos do conhecimento — significado que a palavra tem até hoje. É prima da encíclica, carta circular do Papa aos seus fiéis.
Depois do Acordo: idéia > ideia