Diz o velho provérbio que cores e gostos não se discutem: enquanto no Ocidente a cor do luto é o preto ou o roxo, em muitos países do Oriente é o branco que tem este valor. Nossas noivas ainda se vestem de branco, mas na Índia elas preferem o vermelho, na Noruega elas casam de verde. No que se refere ao mundo das cores, cada povo difere dos demais nas suas preferências, nas combinações que valoriza e no simbolismo que a elas atribui; é natural, portanto, que as expressões que usam os nomes das cores não possam ser traduzidas literalmente de uma língua para outra. Vemos, abaixo, as principais expressões “coloridas” empregadas no nosso idioma.
branco — Na nossa cultura, associamos ao branco a pureza e a inocência (o vestido de noiva, a roupa do nenê no batizado, etc.), a higiene, a saúde e a limpeza (ambulâncias, hospitais), a sabedoria (os sábios da lenda sempre têm roupas e barbas brancas, os cientistas sempre usam guarda-pós); por causa do preto no branco da imprensa, esta cor também designa o que está sem marca alguma (livro em branco, cheque em branco).
expressões com branco: a bandeira branca indica trégua; as armas brancas incluem facas, espadas e lâminas de toda espécie; se autorizo alguém a fazer tudo o que for necessário, dou-lhe carta branca; quem pratica magia branca só admite fazer o bem; na greve branca, os empregados se declaram em greve, mas continuam trabalhando; versos brancos são os que não têm rima; se não saiu premiado, é um bilhete branco; se nenhum dos candidatos da cédula foi assinalado, temos um voto em branco; posso ficar branco de medo ou de susto.
verde — O verde é a cor da esperança e, naturalmente, da natureza e da ecologia; por analogia com o crescimento dos vegetais, também simboliza a juventude. Em certos casos, contudo, pode sinalizar algo demoníaco (o monstro verde do ciúme, de Shakespeare) ou estranho (os homenzinhos que pilotam os discos-voadores são, no imaginário popular, sempre verdes, assim como os duendes).
Expressões com verde: quem recebe sinal verde tem autorização para prosseguir; a adolescência são os saudosos verdes anos; chamamos de fruta verde toda fruta que não está madura, independentemente de sua cor verdadeira; a Amazônia foi apelidada de inferno verde pelos viajantes europeus do séc. XIX; fica-se verde de inveja (embora alguns também fiquem roxos); as verdinhas são as notas de dólares, que têm a mesma cor em todos os valores, e o pano verde designa as mesas de jogos de azar.
amarelo — É a cor, por excelência, do que precisa ser chamativo (as bolas de tênis, os botes salva-vidas, as capas de chuva de quem trabalha na estrada); está associada à luz e ao sol, ao fogo e à energia — mas também à palidez do medo e da doença.
Expressões com amarelo: A imprensa amarela (também chamada de imprensa marrom) explora o sensacionalismo; perigo amarelo era como a contrapropaganda chamava os asiáticos (especialmente chineses e japoneses); um sorriso forçado, contrafeito, é o famoso sorriso amarelo, enquanto amarelar é se acovardar.
azul — É a cor do infinito e de tudo o que está distante (o azul do horizonte, o mar azul); por sua presença no céu, ficou associada à paz e à tranqüilidade (o azul da ONU, da Comunidade Européia; os capacetes azuis da Força de Paz). Hoje está muito ligada à água, como se vê na embalagem de qualquer água mineral.
Expressões com azul: quem pertence à nobreza tem sangue azul; receber o bilhete azul é ser demitido; pescar na água azul é pescar fora da plataforma continental, no mar profundo; quando tudo corre bem, está tudo azul; quem se deixa seduzir pela ambição foi mordido pela mosca azul.
negro — No Ocidente, sempre foi a cor da noite, da morte e da tristeza; por ser austera, associou-se também à autoridade (basta ver as vestes dos padres e dos magistrados; até bem pouco tempo atrás, o juiz de futebol usava sempre fardamento preto). Modernamente, traz também um aspecto de elegância: os homens usam smoking e black-tie, enquanto as mulheres portam o seu “pretinho básico”.
Expressões com negro: a magia negra, ao contrário da branca, quer sempre prejudicar alguém; na lista negra, só entram os nomes que vão ser vetados ou boicotados; a ovelha negra da família destoa do grupo por seu comportamento reprovável; o câmbio negro (assim como o mercado) era clandestino, mas já não é tão combatido, passando a ser chamado de paralelo; o ouro negro é o petróleo, e continente negro era como se chamava a África.
vermelho — Era a cor dos imperadores e da nobreza, do sangue e da paixão; hoje também está associada ao perigo (o alerta vermelho, a bandeira vermelha das praias), ao fogo (os caminhões de bombeiros, os hidrantes, os extintores de incêndio), aos partidos de esquerda e ao que precisa ser assinalado na escrita (as correções feitas pelo professor, os lançamentos negativos na contabilidade). É considerada a cor favorita das crianças, que sempre preferem balas, doces, bebidas e brinquedos nessa cor.
Expressões com vermelho: Estender o tapete vermelho para alguém é recebê-lo com todas as pompas e honras; Marte é o planeta vermelho; um telefone vermelho é uma ligação direta entre duas autoridades; levar o cartão vermelho é ser expulso, ser mandado embora (até de um namoro); quem tem saldo devedor está no vermelho; fica vermelho quem ainda tem a capacidade de ruborizar-se.
outras cores — É pequena a sua contribuição: vê a vida cor-de-rosa quem olha a realidade com um otimismo ingênuo e exagerado; uns têm muita, outros têm pouca massa cinzenta (o cérebro); podemos ficar roxos de vergonha, de fome ou de frio; ter aquilo roxo é ter coragem para dar e vender. Por último, chamamos de vida incolor ou descolorida aquela que é vivida sem graça e sem entusiasmo.
Depois do Acordo: tranqüilidade > tranquilidade
européia > europeia