Antônio Vinícius, de João Pessoa, comenta o que escrevi em Subindo e descendo: “Ao explicar a origem da palavra libertino, o senhor diz que o significado atual surgiu a partir do séc. XVII. No entanto, num livro de Direito Romano, li que, como o senhor disse, designava apenas o escravo que tinha conquistado a liberdade, mas, como eram proibidos de contrair matrimônio, viviam essas pessoas uma vida sexual dissoluta, vindo daí, ainda na Roma Antiga, o significado que tem até hoje. Qual a origem correta?”
Meu caro Antônio: evidentemente, o autor desse manual de Direito não fez o seu dever de casa. Jamais houve vida dissoluta entre os escravos libertos, em Roma — isso só acontecia, como tu bem sabes, entre os senhores e a nobreza. Aconteceu aqui, mais uma vez, aquilo que já conhecemos: por não pesquisar a verdadeira razão da deterioração semântica de libertino, o autor resolveu imaginar. A área mais perigosa da Lingüística é exatamente a Etimologia, pois se presta a essas historinhas conhecidas e facilitárias, como a de libertino, que mencionaste, a de forró, a do cadáver, a de coitado, etc. — em que uma imaginação geralmente pífia tenta suprir a falta de estudo e de pesquisa. Abraço. Prof. Moreno