“Oi, Doutor: gostaria de tirar uma dúvida sobre denotação: é o sentido real de algo, certo? E seria também a linguagem formal, clássica, do nosso Português?”
Gerusa N. — Cachoeira do Sul (RS)
Minha cara Gerusa: o valor “denotativo” de um vocábulo é aquela parte de seu significado que se refere ao mundo (concreto ou imaginário); nesse sentido, tens razão quando dizes que este seria o significado real de um vocábulo. Para ser mais didático: quando perguntamos “o que quer dizer esta palavra?”, estamos em busca do seu valor denotativo. Quando recorremos aos dicionários, andamos também atrás dessa denotação.
O vocábulo cavalo, por exemplo, denota um mamífero de quatro patas, marido da égua, pai do potrilho, apreciador de capim, etc.; estrela denota um astro luminoso, figura de cinco ou seis pontas, etc.; e assim por diante. Em alguns vocábulos, no entanto, o significado não se resume a esse valor denotativo; a ele pode agregar-se a conotação, que é um valor adicional, uma nuança semântica que a palavra carrega consigo. Ela pode caracterizar determinada região lingüística, ou a idade do falante, ou seu nível social e cultural, ou simplesmente expressar uma avaliação depreciativa. Por exemplo, lábio e beiço, quando usados para seres humanos, denotam a mesma parte da anatomia; contudo, enquanto lábio tem conotação neutra, beiço acrescenta uma conotação pejorativa, grosseira. Embora no século XVIII isso não fosse assim — Tomás Antônio Gonzaga falava nos beiços de sua amada, no delicado Marília de Dirceu —, hoje seria intolerável o emprego deste vocábulo num poema amoroso.
Cuida que muitos manuais escolares usam “valor conotativo” para designar o que seria melhor chamar de “sentido figurado” — o uso metafórico ou simbólico que nós fazemos dos vocábulos. Chamar alguém de “cavalo” é usar o termo em sentido “figurado”, não “conotativo”. Dizer que os olhos dela são “estrelas” é uma velha e bonita metáfora, mas não se trata de conotação.
Quanto a ser mais denotativa a linguagem formal, clássica, não há nada que comprove isso. O que podemos dizer é que a maioria dos textos científicos ficam basicamente na denotação, raramente explorando as conotações que os vocábulos têm. Abraço. Prof. Moreno
Depois do acordo: conseqüência > consequência