paralipse

“Prezado professor: como se chama aquela figura de retórica em que a gente finge que não vai dizer, mas acaba dizendo? Não consigo explicar bem, mas muitos políticos usaram na última campanha eleitoral; é do tipo “Todo o mundo anda falando muito mal da vida familiar do meu oponente, mas eu me oponho a esse tipo de discussão”. Um professor do Jornalismo disse que tem um nome, mas não consigo lembrar.”  

Maria Cecília R.  — Osasco (SP) 

Prezada Maria Cecília: há muitas maneiras disfarçadas de colocar em destaque o que realmente nos interessa que o leitor perceba. Uma das mais engenhosas é a paralipse, também conhecida pelo nome não menos complicado de preterição. É uma manobra retórica cheia de malícia, em que termino chamando a atenção do leitor para um determinado ponto exatamente pelo recurso de fingir que vou deixá-lo de lado. Isto é, eu declaro não querer falar de coisas sobre as quais já estou indiretamente falando: 

“Seria preconceituoso da minha parte se eu ficasse aqui destacando a falta de educação formal de meu oponente; estou aqui é para discutir o seu plano de governo.”

“Não preciso ressaltar para vocês a importância que nossa empresa dá à pontualidade de seus funcionários.”

“Como o assunto desta discussão é o conhecimento técnico do novo diretor financeiro, peço que se evitem conversas colaterais sobre os seis meses que passou na prisão, no ano passado.”

Na sua forma mais freqüente, a paralipse sempre começa com alguma espécie de negativa: 

— Acho que não tem a menor importância o fato de que ele …

— Longe de mim apontar …

— Não seria adequado, nem pertinente, começar a reunião falando… 

— Não preciso lembrar a meu leitor que …

— Não vou ofender a inteligência do meu leitor explicando …

— Não vou lembrar aqui a lista de acusações levantadas contra ele.

— Eu poderia — mas não vou — me deter na enumeração dos defeitos …

— Não vou examinar aqui os dados que indicam a superioridade de nosso candidato .

No entanto, apesar de sua aparência ardilosa e mal-intencionada, a paralipse também pode ser usada para elogiar uma pessoa:

—  “Não vou falar aqui de seu devotamento e de sua dedicação à nossa causa.”

— “Eu poderia mencionar, entre suas qualidades, a bondade e o desprendimento que sempre demonstrou, mas prefiro destacar seu amor à justiça e à liberdade.” 

Nunca te esqueças, Maria Cecília, de que a linguagem, quando bem manejada, é a mais poderosa arma que o homem já desenvolveu. Abraço. Prof. Moreno

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