Caro professor: estive estudando gramática no livro do professor Hildebrando, e ele diz que o plural de real (moeda) é réis. Achei muito estranho. Será que todos escrevemos errado quando escrevemos “dois reais” num cheque de R$ 2,00, ou deveríamos escrever “dois réis“?
W. Leiroza — Biguaçu (SC)
Meu caro Leiroza, não li tudo o que o professor Hildebrando André escreveu, mas tenho certeza de que ele não deve ter dito exatamente isso. Embora eu discorde de muitas de suas posições teóricas, ele é um gramático escolar sensato e estudioso. Quando a nossa atual moeda foi instituída em 1994, houve uma breve discussão sobre qual seria o seu plural; os mais afobadinhos encontraram “real – pl. réis” nos dicionários e vieram, triunfantes, corrigir os que começavam a dizer “reais“. Em pouco tempo, contudo, esclarecia-se o equívoco: “réis” era o plural de um real virtual (“moeda ideal”, diz o dicionário de Morais), valor apenas de referência; o verdadeiro real, antiga moeda portuguesa, fazia mesmo o plural reais (como, aliás, qualquer substantivo terminado em –AL).
O velho Morais (minha edição é de 1813) é bem rico em detalhes: explica-nos que havia os “reais brancos del-Rei D. Duarte; eram de cobre com estanho, 20 deles faziam uma libra e valiam 36 réis”; “os reais pretos, de cobre sem liga”; e “os reais de prata“. Diga-se de passagem que o verbete “real” é bem extenso, mostrando o esforço do dicionarista em explicar, com os conceitos econômicos da época, os valores relativos entre as diferentes moedas cunhadas pelos sucessivos reis de Portugal.
Portanto, caro Leiroza, deves continuar tranqüilamente a usar reais para o plural de nossa moeda — como vimos fazendo desde 1994. “Réis” é outra coisa muito diferente. Curioso é observar dois usos populares: (1) Mil-réis passou a designar qualquer unidade do inconstante dinheirinho brasileiro; eu já usei mil-réis (o nosso simpático “merréis“, avô da “merreca“) para falar do cruzeiro, do cruzado, do cruzado-novo, do cruzeiro-novo e agora do real. Se um dia — que os deuses não permitam!— surgir o real-novo, com certeza lá estarei dizendo “Custa dois mil-réis“. (2) Tem gente que simplesmente não usa o plural da moeda e prefere dizer, sem enrubescer, “vinte real“, assim como os camelôs falam de “dez dólar”. Aí já é demais. Abraço. Prof. Moreno
Depois do acordo: tranqüilamente > tranquilamente