Prezado Professor: numa prova do colégio perguntaram como se chama o brasileiro que nasce na capital da Bahia. Minha filha respondeu salvadorenho, mas a professora marcou errado, dizendo que é soteropolitano. Eu nunca ouvi falar nisso, e acho que a menina está certa, mas não tenho instrução suficiente para discutir com a professora. O senhor concorda comigo?
M. P. Camargo — São Carlos (SP)
Meu prezado Camargo: a professora fez bem em recusar o salvadorenho, mas exagerou um pouco ao indicar a resposta apenas como soteropolitano (é esquisitíssimo, eu sei, mas existe). Algumas cidades têm dois gentílicos diferentes — o usual, formado pelos processos naturais de nosso idioma, e outro mais erudito, formado artificialmente com radicais do grego ou do latim. Assim, para São Luís, no Maranhão, temos são-luisense e ludovicense (de Ludovicus, nome do Latim tardio que deu origem ao nosso Luís); para Salvador, na Bahia, temos salvadorense e soteropolitano (do grego soteros, “salvador”, mais polis, “cidade”; “Soterópolis”, portanto, seria Salvador com anel de doutor e diploma na parede). Em alguns casos, só existe a forma erudita: para o estado do Rio de Janeiro, usamos fluminense (do latim flumen, “rio”, pois inicialmente se pensava que a Baía da Guanabara fosse um grande rio); para Três Corações, em Minas Gerais, usamos tricordiano (do latim tri, “três”, mais cordis, “coração”).
Como podes ver, tua menina errou a resposta; ou melhor, errou de Salvador: salvadorenho é quem nasce na república de El Salvador, não na cidade da Bahia. Aliás, a maioria dos vocábulos que usam o sufixo –enho são gentílicos de origem espanhola: caraquenho (Caracas), caribenho (Caribe), cusquenho (Cusco), limenho (Lima), hondurenho (Honduras), panamenho (Panamá), etc. Agora, a professora, ao meu ver, ao lado de soteropolitano deveria ter indicado também a variante salvadorense — aliás, a única que eu uso. Abraço. Prof. Moreno