Professor, uma oração na voz ativa somente pode ser passada para voz passiva sintética quando o sujeito dela for indeterminado? Por exemplo: “Eu comprei um carro — Um carro foi comprado por mim”, mas ” Compraram um carro — Comprou-se um carro”. Está correto o exemplo dado?”
Frederico Martins
Prezado Frederico: teu raciocínio está correto; é exatamente isso! Parabéns, porque acertaste bem no prego e este é, sem dúvida, um dos assuntos mais complexos da nossa gramática. No entanto, para não ficar sombra de dúvida, peço-te que examines o conjunto de exemplos abaixo:
(1) ativa: Procuram um pianista
(2) pas. analítica: Um pianista é procurado
(3) pas. sintética: Procura-se um pianista
(4) ativa: O maestro procura um pianista
(5) pas. analítica: Um pianista é procurado pelo maestro
(6) pas. sintética: não admite
Para sofrer a transformação para a passiva analítica, basta que a frase tenha objeto direto na ativa; a frase (1) e a frase (4), como satisfazem esta condição, transformam-se em (2) e (5), respectivamente. No entanto, para que admita também a passiva sintética, a frase da ativa, além do objeto direto obrigatório, tem de ter um sujeito indeterminado. Só a frase (1) satisfaz esta segunda condição e pode, por isso, transformar-se em (3).
Quando o sujeito da frase for determinado, como em (4), duas coisas ocorrerão: primeiro, vai aparecer o agente da passiva (“pelo maestro”, na frase (5)); segundo, não é possível ocorrer a sintética, pois ela é, na sua essência, uma passiva sem agente. Jamais vais encontrar “compram-se carros por Fulano“. Para tua informação, o Português quinhentista ainda conhecia a sintética com agente; as gramáticas citam muito o exemplo de Camões: “o mar, que das feias focas se navega” — ou seja, o mar, que é navegado pelas feias focas. Isso, contudo, foi há séculos, e esta estrutura está em plena evolução, como já mencionei em concordância com a passiva sintética. Abraço. Prof. Moreno