Prezado Professor: ao responder à minha consulta sobre o plural de sem-terra, o senhor disse que a palavra fica invariável: os sem-terra, do mesmo modo que os sem-vergonha, os fora-da-lei. No entanto, o plural de sem-termo (s. m.) é sem-termos, de sem-razão (s. f.) é sem-razões, de sem-vergonheza (s. f.) é sem-vergonhezas, de sem-segundo (adj.) é sem-segundos. E aí, como fica? Desculpe-nos, mas o Aurélio e outros não querem, nos parece, “comprar a briga”, e não trazem o plural dessas palavras. Aqui no jornal, é uma discussão só. Pode nos esclarecer melhor? Desde já, ficamos muito gratos pela atenção.
Carlos — Vitória (ES)
Meu prezado Carlos (e colegas de redação): este vocábulo fica mesmo invariável; o plural é “os sem-terra“. Não podes fazer uma analogia com sem-razão ou sem-vergonheza porque estes dois funcionam como legítimos substantivos. Já sem-terra tem a posição e a função de um verdadeiro adjetivo, já que ele sempre tem um referente externo a ele (expresso ou elíptico); em outras palavras, este composto sempre estará numa posição sintática que pode ser descrita como [alguém sem–terra]: [o camponês sem-terra], [os camponeses sem-terra]; [o sem-terra], [os sem-terra]. Algo idêntico acontece com o homem fora-da-lei, os homens fora-da-lei; o fora-da-lei, os fora-da-lei. Aliás, tem um filme por aí, nas locadoras, que tem o vistoso título de “Os foras-da-lei” (eta, ferro! Conseguiram pôr o plural na preposição!). Também podes comparar com sem-sal: [mulher sem-sal], [mulheres sem-sal]. Acho que o pessoal aí do teu jornal não ia aceitar um “mulheres sem-sais” — ou ia? Abraço. Prof. Moreno
P.S.: o mesmo vale para os sem-teto, os sem-dinheiro, os sem-família, os sem-pão, os sem-vergonha, etc.