Prezado Professor: temos de ser escravos do Português correto? Muitas vezes me sinto um pouco pedante ao pronunciar corretamente algumas palavras que são geralmente maltratadas: /rubríca/, /recórde/, /condôr/, /catetér/, /crôsta/ (os acentos aqui servem apenas para indicar o som)… Devo continuar assim, ou é melhor falar como todos falam?
Andréia Prado
Minha cara Andréia: entendo perfeitamente tua hesitação: muitos já sentiram essa tentação de afrouxar o controle sobre a linguagem e mergulhar no morno e aprazível mar da ignorância. Todos sabemos que é menos penoso e dá menos trabalho; no entanto, devemos seguir lutando, porque escolher o próprio destino, em vez de deixar que os outros o façam por nós, deixa nossa vida muito mais qualificada.
Volto mais uma vez à minha eterna comparação entre língua e vestimenta: entre duas formas igualmente aceitáveis, escolhe aquela em que te sentes mais à vontade. Nota bem: entre duas formas aceitáveis. Um dia desses escrevi sobre onde e aonde com verbos de movimento; as duas têm justificativas e bons defensores — escolhe a que te parece mais confortável. Agora, entre /rubríca/ e /*rúbrica/, a escolha se dá entre o culto (paroxítona) e o inculto (proparoxítona; neste caso, a pronúncia defeituosa também induz a erro de acentuação na grafia). Aqui não deves hesitar em escolher a correta.
Azar que soe pedante — é sinal de que, à tua volta, as pessoas andam precisando de mais estudo. Se lês a minha página e te preocupas em perguntar, é porque dás valor à linguagem que empregas; se a maioria não o faz, pior para eles. E um aviso: quanto mais estudares, quanto mais leres, mais vai parecer que os outros estão ficando para trás (na verdade, estão mesmo). Agora, se queres ser como a maioria (o que eu duvido), relaxa, fica feliz e nunca mais te preocupes com problemas de linguagem; até já me disseram que é mais fácil viver assim… Eu, hein? Abraço. Prof. Moreno