Prezado professor Moreno, gostaria que o senhor me ajudasse, respondendo o que significa a palavra cenoira. Agradeço desde já.
Lydianne — João Pessoa
Minha cara Lydianne: a cenoira é a comida preferida dos coelhos portugueses. Em muitos vocábulos de nosso idioma, o ditongo OU alterna livremente (ou alternou, durante algum tempo) com OI; o Formulário Ortográfico de 1943 considera esse um fato normal e cita, como exemplos, balouçar e baloiçar, calouro e caloiro, dourar e doirar. Embora essa alternância ocorra principalmente antes de R (touro, toiro; tesoura, tesoira; ouro, oiro; ceroula, ceroila), ela já se manifestou em pares como dois, dous; noite, noute; biscoito, biscouto; coisa, cousa; ouço, oiço. Em todos os pares que mencionei, há uma tendência geral do Português Brasileiro em escolher a primeira variante, enquanto a segunda parece ser mais freqüente no Português Europeu (chamamos assim o Português falado em Portugal).
Em certos casos, a hesitação ainda vive entre nós: vais ouvir, aqui mesmo no Brasil, toucinho e toicinho, louro e loiro. Isso é normal; as duas variantes vão conviver por algum tempo, até que uma delas tenha a preferência estabilizada pelo uso. O tempo vai alterando algumas formas e fixando outras; Castro Alves, na 1a. edição de O Navio Negreiro, em 1868, assim escreveu:
‘Stamos em pleno mar… Doudo no espaço
Brinca o luar — doirada borboleta
E as vagas após ele correm… cansam
Como turba de infantes inquieta.
Se trocássemos, numa edição moderna, doudo por doido e doirada por dourada, a alteração passaria despercebida pela quase totalidade dos leitores. Aliás, muitas editoras têm feito isso, considerando que essa atualização não desfigura a sonoridade dos versos originais, mas isso é discussão fora da minha horta; deixo-a para os doutores em Literatura. Abraço. Prof. Moreno