Embora não seja mais usado na grafia do Espanhol, foi na Espanha que se originou o cê-cedilha (ou cê cedilhado). No Castelhano antigo, servia para representar um som semelhante a um /ts/; na edição original do Quixote, de Cervantes (1605), o nome de seu escudeiro está escrito Sancho Pança, e não Panza, como hoje escrevem no Espanhol moderno. No séc. XV, já está bem difundido no Francês e no Português; o estranho, para nós, é que podia aparecer antes de qualquer vogal, tanto no início quanto no interior dos vocábulos. Em 1536, Fernão d’Oliveira, nosso primeiro gramático, ainda escrevia “çidadão” e “Çíçero”, embora essa prática tenha sido criticada por Duarte Nunes de Leão, em 1576 (Ortografia da Língua Portuguesa), que recomenda usá-lo apenas antes de A, O e U, sempre no interior do vocábulo — como é até hoje.
Em alguns textos arcaicos, aparece o dígrafo CZ no lugar que viria a ser ocupado pelo cê-cedilha; com o tempo, contudo, este Z foi reduzido e colocado sob o C, assemelhando-se a uma pequena cauda — o que faz muita criança, até hoje, falar no “cê com rabinho”. Na verdade, o “rabinho” continua a ser um zê diminuto, um zezinho, um zê pequenino. O vocábulo cedilla nada mais é, portanto, que o diminutivo da letra Z, chamada zeda, ou ceda no Espanhol antigo, mais o conhecido sufixo –illa” (o nosso –ilha), presente também em outras palavras que recebemos daquele idioma, como flotilha, baunilha, estampilha e morcilha.
Ao percorrer minhas fontes, colhi a informação (talvez pouco útil, mas no mínimo curiosa) de que este sinal também é utilizado na grafia do Romeno e do Turco moderno!