Quem está acostumado a usar senhas na internet vai entender perfeitamente o sentido da expressão “Abre-te, sésamo”. Aproveito, caro leitor, para lembrar que Ali Babá não CHEFIAVA os 40 ladrões; bem pelo contrário, ele FUGIA deles, e quase foi por eles assassinado.
Um antigo aluno, hoje leitor assíduo desta coluna, vem fazer uma pergunta que, segundo ele, já deveria ter feito há muito tempo: “Um folheto de propaganda que recebi argumenta que os cursos de MBA têm a vantagem de acrescentar ao currículo três letras que soam como um abre-te Sésamo. Minha dúvida não é quanto ao sentido, que me parece claro: o MBA é um título acadêmico que abre portas, como na história de Ali Babá e seus quarenta ladrões; o problema é esse Sésamo. Sempre usei a expressão sem saber quem era ele; li em algum lugar que podia ser um jumento que acionava o mecanismo da porta, mas achei esta versão idiota demais. E o senhor, o que diz?”.
Pois eu digo, em primeiro lugar, que também já li essa pitoresca (e risível, vamos combinar) versão de que haveria um jumento chamado Sésamo, sempre a postos para abrir ou fechar a caverna do tesouro. Realmente, por ser grafado erroneamente com essa inicial maiúscula, pode passar a impressão de se tratar de um nome próprio ― e aí entra a fantasia: nome de quem? Como a história não menciona nenhum personagem a servir de porteiro, um burrico seria uma hipótese plausível no contexto das 1001 Noites. Note-se, porém, que o imperativo não é “abre”, mas “abre-te”, o que seria muito estranho se fosse dirigido a qualquer ser vivo.
Na verdade, o sésamo (com minúscula) nada mais é do que aquele grãozinho comestível que também atende no Brasil pelo nome de gergelim. Quando pronto para colher, o capucho que contém os grãos estoura ao mais leve contato, produzindo um estalo, dizem, similar ao da lingueta de uma fechadura ao ser acionada. Como se vê, o abre-te, sésamo ― a vírgula é indispensável, pois temos aqui um vocativo ― foi muito bem escolhido por Xerazade, a princesa que narra a história, para constituir as palavras mágicas que davam acesso ao esconderijo dos salteadores. O irmão invejoso de Ali Babá, Cassim, foi apanhado pelos ladrões com a boca na botija justamente porque, na hora de sair, apavorado, esqueceu a palavra certa e trocou o sésamo por cevada, centeio, trigo e outros grãos comestíveis ― o que, evidentemente, não funcionou, como sabemos nós, acostumados à inexorável objetividade das senhas e das palavras-passe que usamos na internet.
Por fim, uma pequena informação adicional que não pediste, mas que sempre servirá para alguma coisa: a história fala de Ali Babá e os quarenta ladrões, não de Ali Babá e seus quarenta ladrões. Os ladrões não são chefiados por Ali Babá, que é a vítima; bem ao contrário: eles passam a persegui-lo no momento em que percebem que o pobre carvoeiro descobriu o segredo da caverna, e só não o matam por detalhe. Faço questão de esclarecer esse ponto fundamental porque andei lendo, não faz muito, um confuso jornalista que, comentando a roubalheira do Planalto, dizia que, descobertos os ladrões, só faltava agora prender o Ali Babá…
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