Um candidato desesperado vem pedir auxílio para fazer um recurso urgente, numa questão que envolve a famigerada distinção entre adjuntos adnominais e complementos nominais. Não obteve tudo o que pedia, mas saiu daqui levando o mapa da mina.
Olá, professor Moreno. Serei o mais breve possível, pois preciso urgentemente saber seu posicionamento sobre uma questão do último concurso do TRT-7ª (2009). Em nome de seus filhos, por favor, me ajude, porque isso pode decidir a minha vida e a da minha família. Reproduzo abaixo a questão:
“A busca por explicações para os diversos matizes da personalidade”
A mesma regência assinalada acima NÃO está caracterizada na expressão:
(A) vários países da Europa.
(B) a influência dos hábitos e do estilo de vida.
(C) na formação da personalidade.
(D) produto apenas do ambiente.
(E) uma reação à série de barbaridades.”
O gabarito oficial dá como correta a alternativa “A”. Não entendo por quê; afinal, nenhuma alternativa apresenta a preposição POR, destacada no enunciado. Como eu poderia ter resolvido esta questão? Ela poderia ser anulada? Quanto o senhor cobraria para fazer um recurso para mim?
J.B. — Juazeiro do Norte – CE
RESPOSTA — Meu caro J.B, a questão parece ter um defeito grave. Vamos examinar, primeiro, a estrutura do enunciado: “por explicações” é complemento nominal de “busca”. Assim como o verbo buscar exige complemento verbal (objeto direto, no caso), o seu substantivo derivado necessita de um complemento nominal. Essa estrutura se repete na alternativa (C), em que “a personalidade” é o CN de “formação”, bem como na alternativa (E), em que “a série de barbaridades” é o CN de “reação”.
Ocorre que as outras três alternativas têm adjuntos adnominais e se enquadrariam, portanto, naquilo que a banca pede, pois nenhuma delas tem a mesma regência assinalada no enunciado. O exemplo mais óbvio está na alternativa (A), indicada no gabarito oficial (“países da Europa”). O problema é que, na alternativa (B), “dos hábitos e do estilo de vida” também são adjuntos adnominais (já que, na estrutura profunda, “os hábitos e o estilo de vida influem” — e o princípio indiscutível é que o sujeito da estrutura profunda se transforma em adjunto na estrutura de superfície). O mesmo ocorre na alternativa (D), em que “ambiente” é o adjunto adnominal de “produto” (“o ambiente produz”).
Desta forma, a questão apresenta TRÊS alternativas que não correspondem à estrutura assinalada no caput e, portanto, deveria ser anulada. Essa é a minha opinião — e aqui ficamos. Não faço recursos individuais, nem poderia: eu trabalho sozinho e não é fácil atender a todos os consulentes do Sua Língua. Teu apelo, entretanto, me comoveu. Não vais sair com as mãos abanando: com base no raciocínio que apontei acima, um bom professor de Português aí da tua cidade certamente vai montar um sólido recurso. Boa sorte!
Prof. Moreno