Prezado Doutor: a forma correta de escrever antraz é com Z ou com X no final da palavra?
Juliane J. — Porto Alegre (RS)
Minha cara Juliane: antraz é um termo muito antigo no Português; o dicionário Houaiss data-o de 1536. Até o século XIX era usado para designar não a doença, como hoje, mas várias espécies de abscessos e furúnculos de aparência maligna, cujas causas (as mais diversas, como hoje sabemos) a Medicina da época ignorava completamente. O termo vem do Grego anthrax, com o significado de “carvão” — pressuponha-se “em brasa” — e servia para designar, ao mesmo tempo, as pústulas avermelhadas sobre a pele e um dos mais belos tipos de rubi, de inigualável coloração sangüínea. Desde seu ingresso no idioma, vem sendo escrito com Z final — assim encontro no Morais, no Lacerda, no Caldas Aulete, no Aurélio e no Houaiss. A forma anthrax que aparece na mídia é do Inglês; não posso negar que esse X dá a ela uma força expressiva e sinistra muito maior que a do nosso antraz, evocando essas entidades maléficas que povoam os videogames e os jogos de RPG.
O antraz, furúnculo e pedra preciosa, é um daqueles exemplos em que o horrível anda ao lado do sublime. Ninguém melhor do que o velho Morais, para expressar essa dualidade em sua linguagem de lei (no verbete “anthraz”, ele remete a “carbúnculo”, de onde retirei o trecho abaixo):
“Tumor vermelho, duro, redondo, pontiagudo, com dor viva e calor ardente, e uma pústula no meio, ou mais, que se convertem numa crosta negra ou cinzenta… Pedra preciosa; [dizem] que luzia de noite às escuras como brasa acesa; é rubim grande, de muito fogo e fundo”.
Depois do Acordo: sangüínea > sanguínea