bebidas espirituosas

Meu caro professor: li, recentemente, que é proibida a venda de bebidas espirituosas a menores de idade. Disseram-me que são chamadas assim porque os antigos acreditavam que havia espíritos dentro da garrafa, mas esta explicação não me convenceu. De onde vem a palavra?

Edson B. – Recife

Meu caro Edson: como suspeitavas, essa explicação é mais uma história da carochinha. Quando as pessoas, usando apenas a imaginação, tentam encontrar a conexão entre duas palavras, o mais provável é que levantem essas hipóteses de almanaque de farmácia. Chamamos de bebidas espirituosas todas aquelas que contêm álcool destilado, como a cachaça, o conhaque, o rum, o uísque, o gin, a tequila, os licores em geral. O nome não vem de espíritos que habitem a garrafa (como os gênios costumam fazer, nas histórias das Mil e Uma Noites), nem da capacidade (assaz duvidosa) que essas bebidas teriam de aguçar o espírito do bebedor. É na misteriosa Alquimia que devemos buscar a origem desta expressão.

Os alquimistas, bisavôs dos nossos químicos, executavam pacientes operações com vegetais e minerais, deles extraindo várias substâncias na forma de “águas e óleos destilados, bálsamos, espíritos, sais, extratos, tinturas, elixires, essências, magistérios e lores”. Na concepção primitiva que tinham da matéria, os alquimistas definiam o espírito como “a parte mais sutil, mais ativa e penetrante, encarregada de promover as funções dos corpos”. Destilando o vinho, obtinham um líquido inflamável, a que chamavam espírito do vinho, nome que até hoje serve para designar o álcool etílico, obtido pela destilação do vinho ou de outras substâncias fermentáveis. Por outro lado, o álcool metílico, venenoso, impróprio para beber (“não-potável”, como diria Antônio Houaiss), é obtido pela destilação seca da madeira, sendo conhecido, por isso mesmo, como espírito da madeira.

Chamo tua atenção para um pequeno utensílio de cozinha, quase desconhecido da novíssima geração de brasileirinhos urbanos, criados sob as radiações do microondas, mas ainda muito comum no interior do país ou entre o pessoal que acampa: a velha espiriteira, um pequeno recipiente onde se queima álcool, usado para esquentar água ou amornar a comida. Passando para o mundo mais sofisticado, também se chama de espiriteira aquele fogareirinho que fica aceso embaixo do rechô ou da panela do fondue. Abraço. Prof. Moreno