Tenho uma questão que há muito me persegue. Alguém que seja do sexo feminino, aprovada em concurso e que exerça o cargo de Analista Judiciário, deve dizer “Exerço o cargo de Analista Judiciário” (ou Analista Judiciária?) ou “Exerço o cargo Analista Judiciário” (sem a preposição de)?
David A. — Maceió
A preposição de entre cargo e analista é indispensável, David. Não podes ligar um substantivo a outro diretamente; entre dois substantivos haverá ou um hífen (navio-escola), sinal de pontuação (“água, vinho, cerveja“) ou uma preposição (casa de madeira, café com leite). Portanto, cargo de professor, de governador. Agora, o outro item da questão já é mais maroto. Roseane Sarney exerce o cargo de governador ou de governadora? Se quisermos ficar exatamente no rigor da estrutura, será o cargo de governador; no entanto, há muitas circunstâncias (e a concordância de gênero é bem marcante quanto a isso) em que se costuma desconsiderar essa lógica mecanicista e parte-se para uma interpretação semântica da expressão, o que leva a conseqüências gramaticais não ortodoxas (nas velhas gramáticas, chamam isso de silepse). Lembro-te, por exemplo, que o gênero do vocábulo gente (feminino) pode ser desconsiderado ao fazermos a concordância (quando se referir a homens): “A gente ficou plantado aqui quase duas horas”. Roseane exerce o cargo de governador, mas o fato de ser governadora interfere muito na hora de escolhermos uma das formas. Eu fico com governador, pela mesma razão que, no pural, eu também não vou flexionar o termo: “Eles perderam seus cargos de diretor” ( e não “de diretores”); não vou criticar, contudo, quem optasse por governadora. Na mesma linha, portanto, uma mulher deveria dizer que “exerce o cargo de analista judiciário“, ou que “é uma analista judiciária“. Abraço. Moreno
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