cecê

Caro Doutor, tenho uma dúvida quanto à sigla CC, usada para designar o mau cheiro proveniente das axilas. Gostaria de saber a origem desta sigla e o seu significado.

Marcelo B. — Campo Grande (MS)

Meu caro Marcelo: não sei qual a tua idade, mas acredito que não tenhas convivido com o famoso sabonete Lifebuoy da minha infância. Esse sabonete, que entrou no Brasil após o fim da 2ª Guerra, foi, por uma década, o campeão de vendas nos EUA, apoiado por uma agressiva campanha publicitária que exaltava a sua capacidade insuperável de combater o grande inimigo do sucesso pessoal: o mau cheiro do corpo. Baseado em “820 testes científicos” (nem um a mais, nem um a menos), a publicidade do sabonete dizia que ele era capaz de eliminar o B.O. (sigla para body odor, “cheiro do corpo”) dos 13 pontos mais perigosos da nossa pele (já tentei imaginar quais eram, mas nunca cheguei a completar os 13 — a não ser que contasse duas axilas e dois pés …).

A propaganda nas revistas era sempre em forma de uma pequena história contada em quadros: aparecia, por exemplo, uma moça solitária, cercada por pares que dançavam elegantemente, e um balão reproduzia o seu pensamento: “Por que será que eu sou a única garota que não tiram para dançar?”. Nos quadros seguintes, uma amiga se apiedava dela e tinha uma conversa “de mulher para mulher”: o problema dela era o cheiro desagradável do seu corpo. “Mas eu tomo um banho diário”, respondia a pobre mocinha, chocada com o rumo da conversa. “Sim, mas com um sabonete comum. Só Lifebuoy garante eliminar completamente o B.O., sua tolinha!”. Noquadro final, é claro, a mocinha sorria, confiante, enquanto contava à amiga, por telefone, o sucesso que tinha feito entre os rapazes, depois que trocara para Lifebuoy…

O produto foi lançado no Brasil com a mesma estratégia publicitária; os tradutores, então, passaram B.O. para C.C. (com o mesmo sentido de “cheiro do corpo”). A sigla se popularizou de tal maneira que, nos anos 80 (segundo a datação de Houaiss), transformou-se no vocábulo cecê, exatamente pelo mesmo processo de lexicalização que transformou LP em elepê. Abraço. Prof. Moreno