desinquieto

Sempre me interessei pela formação das palavras, mas não consegui chegar a conclusão alguma sobre uma delas, apesar do dicionário Aurélio aceitá-la. Em Minas, costuma-se falar muito que uma criança está desinquieta, ou seja, “agitada”. O prefixo des-, sendo de negação, não indicaria que ela é uma criança “não inquieta”, ou seja, quieta? Obrigada. 

Nilza S. Araxá (MG)

Prezada Nilza, nem sempre o des- vai ser prefixo de negação. Mesmo os gramáticos mais antigos, como Said Ali, já observavam que ele pode ser usado com sentido positivo — uma espécie de intensificador —, sem que o vocábulo mude o seu significado. Essas formas prefixadas são empregadas como meras variantes das formas simples: desinquieta (inquieta), desinfeliz (infeliz), desapartar (apartar), desabalar (abalar), desafastar (afastar). Sugiro-te uma olhadela, tanto no Houaiss quanto no Aurélio, no verbete “des-“; ambos registram e exemplificam o fenômeno.

Isso não ocorre apenas com o des-; compara as dobradinhas soprar e assoprar; levantar e alevantar (bem no início de Os Lusíadas); mostrar e amostrar; baralhar e embaralhar; soalho e assoalho; renegar e arrenegar; esposar e desposar. Há uma teoria de que esses seriam “falsos prefixos”, já que são vazios de sentido (embora se perceba, em alguns casos, o efeito de reforço) e não chegam a formar um vocábulo novo. Se prestares atenção, vais encontrar muitos outros exemplos. Abraço. Prof. Moreno