Professor: aqui na redação sempre temos dúvida quanto ao emprego do hífen em duas situações muito comuns para nós: quando apresentamos uma série de dados sobre um cantor, por exemplo, estamos fazendo um “raio x” ou um “raio-x” desse cantor? Quando descrevemos detalhadamente um processo qualquer, como podemos intitulá-lo? Seria “passo a passo” ou “passo-a-passo” do tapete artesanal?
[Nome retirado a pedido]
Vocês têm razão de estar em dúvida, porque, nestes casos mencionados, ocorre um interessante fenômeno do Português: expressões (ou frases inteiras), dependendo de sua posição sintática, transformam-se num simples vocábulo composto (substantivo ou adjetivo), o que pode ocasionar mudanças na sua grafia. Um exemplo bem conhecido é dia a dia (expressão de tempo, significando “dia após dia”), que ganha hifens quando se torna um substantivo: “O bebê ia ganhando peso dia a dia“, mas “O filme mostra o dia-a-dia de uma aldeia gaulesa”. A frase “Deus nos acuda!“, quando substantivada, ganha hifens e perde a maiúscula (exatamente porque agora se trata de um substantivo comum): “Foi um deus-nos-acuda“. Para orientação de vocês, apresento alguns pares bem significativos:
1) Eles lutavam corpo a corpo./ Ele é imbatível no corpo-a-corpo.
2) Fique à vontade./ Desagradava-me aquele à-vontade do menino.
3) Ele respondeu: “Bom dia!“/ Ele não me deu nem um bom-dia.
4) Ele andava à toa na vida./ Recebeu uma quantiazinha à-toa.
5) Eu só posso dizer “Muito obrigado!”/ Quero que recebas o meu muito-obrigado.
6) Os raios X podem causar infertilidade./ No arquivo, vocês poderão encontrar vários raios-x de atrizes de Holywood.
7) Ele descreveu o processo passo a passo./ Veja o passo-a-passo completo da declaração do Imposto de Renda.
É claro que nem todo o mundo escreve assim — até porque o hífen, como vocês sabem, é um cipoal em que ninguém se entende. Eu sigo aqui, no entanto, os sólidos ensinamentos de Celso Pedro Luft; acho que vocês devem fazer o mesmo. Abraço. Prof. Moreno