Estados Unidos e Nova Iorque

Professor, tenho alguns reparos a fazer: (1) Em Inglês, Estados Unidos é sempre usado com o valor de um singular: “The United States is a big country. America is a big country. The U.S. is a world power. The U.S.A. has a problem with illegal immigration”. O plural dos verbos (neste caso, are ou have) não é usado porque Estados Unidos é considerado um nome próprio, não um substantivo + adjetivo. É um nome de um país. Os estados russos, os estados confederativos, os estados europeus, os estados brasileiros, os estados romanos, as ilhas havaianas — esses sim são substantivos + adjetivos, que não começam em letras maiúsculas. 

(2) Sua resposta sobre New York ou Nova Iorque não era clara. Quando falarmos em Inglês, ou em Português, dirigindo-nos a um estrangeiro, é melhor usar New York, ou a outra pessoa não vai entender. Quando falarmos em Português com uma pessoa que estudou Geografia em Português e só conhece os nomes das cidades do mundo nesta língua, usemos Nova Iorque. Nunca misture Inglês e Português no mesmo nome, e.g. New Iorque ou Nova York. Os mapas em Português têm os nomes das cidades do mundo em Português. Os mapas em Inglês têm os nomes das cidades do mundo em Inglês. A cidade Nieuw (New) Amsterdam foi renomeada como New York em 27 de agosto de 1664, em homenagem ao Duque de York. York é uma cidade da Inglaterra fundada antes do século VII e não tem nada de ver com a palavra portuguesa Iorque.”

Terry S. — Belo Horizonte

Meu caro Terry: agradeço tuas observações. São esclarecedoras quanto ao uso do Inglês, mas nada têm a ver com o Português. “The U.S.A. is“, “people are“, etc. — são características idiossincráticas do sistema flexional do Inglês, do mesmo modo como “Os Estados Unidos são” caracteriza o sistema do Português. Minha resposta quanto a Nova Iorque visa exclusivamente ao âmbito dos falantes nativos de nosso idioma; é evidente que, lá fora, ou usaremos New York, ou — o que é mais adequado ainda, como tu deves saber — a pronúncia específica conhecida pelos habitantes do país em que nos encontrarmos (o que fica difícil para quem viaja muito, principalmente pela Ásia).

Agora, meu caro Terry, não tens razão alguma quando afirmas, candidamente, que “os mapas em Português têm os nomes das cidades do mundo em Português”. Eu não devo ter sido claro em minha explicação, pelo que vejo: usamos, em nossos mapas, os nomes adaptados para o Português se existir a forma adaptada (Londres, Munique, Bolonha, etc.) e se, mesmo existindo, o uso a tenha consagrado (como eu disse no meu artigo sobre Nova Iorque, nossa língua formou Cantuária para Canterbury, mas preferimos ficar com o original). Na maioria casos, contudo, nossos mapas (e, ipso facto, nós, falantes) usam o nome original da região (Buenos Aires, Los Angeles, Buffalo — e não “Bons Ares”, “Os Anjos” ou “Búfalo”).

Por fim — last but not least —, que bela confusão fizeste com o nosso Iorque! Escreves: “York é uma cidade da Inglaterra fundada antes do século VII e não tem nada de ver com a palavra portuguesa Iorque“. Como não? Deves ter percebido que nós, países da América, usamos muitos topônimos oriundos de topônimos europeus — o que explica a grande profusão de novos e novas nos mapas dos EUA, do Canadá, do Brasil e de todos os países da América espanhola. Muito, mas muito antes de nosso continente ter sido descoberto por Colombo, Portugal comerciava com seus vizinhos europeus e tinha (o que é óbvio) nomes para eles e para seus países e cidades. Um viajante português que ia à Inglaterra (e não England), encontrava lá Londres (e não London), Gales (e não Wales), Iorque (e não York), etc. Quando o Brasil foi descoberto (bem antes, portanto, de chegarem os Peregrinos ao norte da América), Iorque já era uma palavra velha no Português. Ao rebatizarem New Amsterdam para New York, criou-se, automaticamente, para os falantes de nosso idioma, a oposição entre Iorque (para eles, na época, a verdadeira, na Inglaterra) e Nova Iorque (a pequenina cidade surgida em Manhattan, insignificante, perdida na solidão do novo continente). Um abraço, Terry, e continua meu leitor atento. Prof. Moreno