Caro professor, tenho dúvida quanto à conjugação de alguns verbos, principalmente daqueles considerados anômalos. Apostei com um amigo meu que existe, sim, a conjugação do verbo competir, na primeira pessoa do singular (eu compito). Já busquei a resposta em várias gramáticas, mas até agora não consegui nada. O senhor poderia me ajudar nesta questão?”
Antonio M. S. — Cuiabá (MT)
Prezado Antônio: em primeiro lugar, deves estar falando em verbos defectivos — aqueles que normalmente não são usados em todas as suas formas. Anômalos são apenas dois — ser e ir —, que foram compostos pelos radicais de três verbos diferentes (compara sou, és e fui, por exemplo).
Quem decide se um verbo é normal, com a conjugação completa, ou defectivo? É aqui, Antônio, com o perdão da expressão grosseira, que a porca torce o rabo: o critério é a sensibilidade do gramático que elabora a lista. Uns acham que emerjo é horrível, e põem emergir na sua lista; outros consideram essa forma absolutamente normal. A maioria dos gramáticos (e Aurélio também) diz que adequar só deveria ser conjugado, no presente, nas formas arrizotônicas (adequamos, mais o inútil adequais); no entanto, a forte pressão do uso está tornando comum eu adequo, tu adequas (com o U tônico); o dicionário do Houaiss atribui-lhe conjugação completa, embora, para meu espanto, prefira adéquo, adéquas, etc.
Ora, como podes perceber, o critério estético é absolutamente subjetivo; se fosse por feiúra, eu votaria na inexistência de cri (de crer), freges (de frigir), de remedeio (remediar), entre outros, que são feios como a necessidade. Além disso, o que alguns acham inaceitável para colorir (eu coloro, por exemplo, é condenado), aceitam para colorar (verbo, aliás, que eu nunca tive a oportunidade de usar). Compara a lista elaborada por dois gramáticos quaisquer, e verás grandes divergências entre elas.
Quanto ao teu competir, com certeza é conjugado em todas as suas formas, exatamente como repetir: repito, repetes, repete; compito, competes, compete (Bechara). Quando eu era criança, ouvia muito aqueles “ensinamentos” totalmente furados, vindos de professores sem qualquer formação lingüística, que viviam dando palpites sobre nossa língua; alguns ridicularizavam (?) compito com um trocadilho infame, “eu com pito e tu sem pito” — podes ver que sua pouca ciência estava aliada a um humor de terceira… Fica em paz, Antônio: ganhaste tua aposta. Abraço. Moreno
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