eu também quero ser DOUTOR!

Caro Doutor: peço, novamente, que me tire uma dúvida para a qual não encontrei resposta em nenhum lugar. Por que os formados em Medicina, Direito, Odontologia, e até mesmo Engenharia (entre outros), são chamados de doutor, enquanto os formados em Letras, Computação, etc., não o são? No meu entender, doutores são apenas os pós-graduados em doutorado ou “Phd”, que defenderam uma tese e receberam tal título, e nem mesmo os mestres devem ser chamados assim. Existe uma regra para tal discriminação? Por favor, mesmo que não seja publicado em seu site, ao menos me responda esta dúvida cruel.Obrigado.”

Ailton B. G. — Osasco -SP

 

Meu caro Ailton: para ser Doutor, o pobre mortal tem de quebrar muita pedra! Só os que sobreviveram sabem o que isso significa. No mundo acadêmico, só pode ser chamado de doutor quem cumpriu as etapas constantes no curso de doutorado, incluindo a defesa de uma tese original diante de uma banca composta por cinco outros doutores (no sistema brasileiro, que alguns acham exigente demais, isso só pode ser feito depois de se ter concluído o curso de Mestrado). Quando se ouve, na Universidade (ou aqui no sítio Sua Língua) alguém anunciado como Professor Doutor, é porque ele é doutor mesmo.

Saindo um pouco do mundo universitário, são também chamados de doutores os médicos e os advogados. Isso deve ser resquício do ensino colonial, quando nossos jovens abonados iam à Europa estudar Medicina ou Direito. Aliás, o sentido mais geral da palavra doutor, no Brasil, é o de médico. “Ele foi ao doutor” vai ser interpretado por quase todos os falantes como equivalente a “ele foi ao médico“.

Agora, no imenso mundo não-acadêmico, é chamado de doutor, no Brasil, qualquer cidadão que tenha estudo: “Ele agora se formou; tenho um filho doutor, de anel no dedo!”. Portanto, engenheiros, arquitetos, economistas, etc. ganham aqui também a sua fatia. Estendendo um pouco o conceito, passou também a designar qualquer pessoa cuja aparência sugira que pertence às classes dominantes. É o “doutor” usado pelos guardadores de carro, pelos porteiros de cinema, pelo vendedor dos semáforos. Tu não estás sozinho, Aílton: todo brasileiro, no fundo, sonha em ser doutor. Portugal, nosso avozinho, resolveu de outra forma esse anseio por um tratamento diferenciado: lá todos são chamados de excelência, para contentamento geral. Eu, pessoalmente, prezo mais o título de professor que o de doutor, exatamente pela indefinição deste último. Abraço. Prof. Moreno.