Professor Moreno, num manual de ortografia na internet vi que Guaíra, o nome da minha cidade, passará a ser escrito sem acento, pois a Reforma aboliu o acento do I e do U tônico depois de ditongo. Ele deu como exemplo feiura e bocaiuva, mas não me parece ser exatamente o mesmo caso. O senhor confirma?
Klésio W. — Guaíra (PR)
Meu caro Klésio, Guaíra vai continuar com seu tradicional acento. Quem redigiu aquele manual cometeu um pequeno equívoco ao interpretar a regra que retira o acento que colocávamos em bocaiuva e de baiuca. Não o culpo, pois o Acordo usa o conceito de ditongo de forma muito imprecisa; é necessário ler o texto todo, com muita atenção, para perceber que ele, quando fala de ditongo, está se referindo exclusivamente aos ditongos descrescentes — aqueles que apresentam a semivogal depois da vogal (ai, éi, ei, oi, ói, ui; au, éu, eu, iu, oi).
Aliás, é por isso que feiura e baiuca nunca deveriam ter ser incluídos na regra que acentua saúde, por exemplo. Nesta palavra, o U é tônico, vem depois de uma vogal (há um hiato, portanto) e está sozinho na sílaba. Em feiura, contudo, o U é tônico mas vem depois da semivogal I, o que impede que a regra se aplique. Assim, perderam também o acento boiuno, cauila, Sauipe, reiuno, guaraiuva, Ipuiuna, seiudo, entre outros. Como podes ver, o Acordo apenas providenciou para que um erro histórico fosse corrigido. Desses, só escapam os oxítonos: Piauí, teiú, tuiuiú.
Em casos como Guaíra ou suaíli, contudo, que são ditongos crescentes, o I tônico está contíguo a uma vogal, não a uma semivogal (GuA-Í-ra, suA-Í-li), e a regra encontra as condições necessárias para ser aplicada. Isso também vale para Guaíba, jatuaúba, biguaúna, tatuaíva e mais uma meia dúzia de vocábulos de origem indígena. Abraço. Prof. Moreno