Prezado professor Cláudio Moreno: sou advogado em São Paulo. Na última sexta-feira elaborei uma petição e a concluí com “isto posto, …”, mas um colega alertou-me que o correto seria “posto isto”. Segundo ele, a expressão é gaulesa (País de Gales?), e por isso o correto não seria “isto posto” , conforme ele ouviu de um amigo anos atrás. Existe, no caso, a seqüência correta, ou ambas estão corretas?! Há o mais correto?! Desde já agradeço a atenção e parabenizo-o pela página na Internet.”
Joel L. – SP
Prezado Joel: sempre que uma pergunta me leva a entrar em tribos que não a minha — e esta, no caso, envolve o uso específico dos profissionais da área do Direito —, trato de me socorrer da opinião de quem mora na aldeia. Vou-te responder, portanto, usando as palavras de um sólido especialista em linguagem jurídica, Adalberto Kaspary, retiradas de seu Habeas Verba — Português para Juristas, que eu fortemente recomendo (Porto Alegre, Liv. do Advogado, 1994). Para ele, tanto isto posto quanto isso posto têm “sua gramaticalidade esteada no longo e generalizado uso dos grandes escritores do idioma; e, na gramática, como no Direito, o uso também faz norma. Assim, ambas as expressões, que têm o significado de dessa forma, assim sendo, etc., podem ser empregadas sem qualquer restrição”. O autor, que é professor da velha e boa escola, não deixa de dar o nó de arremate: cita exemplos de juristas, de gramáticos como Rocha Lima e Sousa da Silveira, e de escritores como Vieira e Machado (precisa mais?). Em seguida, conclui: “em um manual de linguagem forense consta a afirmação de que a expressão correta é posto isto, sendo a forma inversa — isto posto — incorreta. A opinião de uma avis rara não tem a força de negar validade a fatos gramaticais solidamente enraizados no uso dos melhores escritores e de eminentes gramáticos e filólogos”.
Aí está, Joel: parece que o teu amigo foi ler exatamente as palavras da avis rara. Continua com teu isto — que, aliás, Kaspary recomenda que se substitua por isso posto, de acordo com o uso consagrado de empregar “esse, isso” para as coisas que já foram ditas, e “este, isto” para as coisas que ainda vamos dizer. É evidente que, se o teu colega preferir, ele pode utilizar posto isto; como vês, este é um daqueles casos em que tanto faz dar na cabeça ou na cabeça dar. Abraço. Prof. Moreno
P.S.: gaulesa é o adjetivo gentílico correspondente à Gália — o nome romano para a região onde hoje temos a França. Para o País de Gales, seria galesa, o feminino de galês.
Depois do Acordo: seqüência > sequência