Prof. Moreno, gostaria que o senhor me elucidasse sobre o uso do acento nas palavras item (ou ítem) e subitem (ou seria sub-item?) e os seus plurais. Obrigado.
Jansen W. — Santos (SP)
Meu caro Jansen: em todos os meus anos de magistério, sempre me fascinou a verdadeira compulsão que as pessoas têm de acentuar item, ou itens, ou ambos. Eu não hesitaria em eleger essas duas formas como o melhor exemplo para provar que há uma falha na maneira como o sistema de acentuação, criado em 1943 e mantido pelo atual Acordo, vem sendo transmitido a todos nós, os brasileiros que sabem escrever. As gramáticas e os livros didáticos geralmente apresentam os acentos numa seqüência de regras aparentemente casuísticas, impedindo que os alunos (e muitos professores) percebam a límpida economia do sistema.
Consulta qualquer um dos bons livros didáticos que temos no mercado: vais aprender que as oxítonas terminadas em A, E, O (com ou sem S final), EM e ENS devem ser marcadas com acento gráfico, enquanto as paroxítonas acentuadas são as terminadas em PS, Ã, ÃO, R, X, L, etc. — uma lista de finais exóticos e pouco comuns. Ora, falar sobre quais as oxítonas e quais as paroxítonas SÃO acentuadas é deixar de perceber o caráter binário, complementar do sistema. O fundamental é sabermos que as palavras paroxítonas mais comuns, mais numerosas (e que, portanto, não devem ser acentuadas) são as terminadas exatamente em A, E, O, EM e ENS. A partir daí, podemos estabelecer o seguinte quadro:
O quadro pode ser lido da seguinte maneira: as palavras mais freqüentes de nosso idioma, que são as paroxítonas terminadas em A, E, O (seguidas ou não de “s“), EM e ENS não levam acento; o resto (uma miuçalha variada) leva. Conseqüentemente, o sistema fez valer o inverso para as oxítonas: as que têm esses finais vão ser acentuadas, enquanto o resto fica sem acento. É por isso que casa, mestre, coroa, homem ficam sem acento, enquanto táxi, flúor, nível, látex são acentuadas. E assim por diante (há uma pequena bateria de regras adicionais que vão, posteriormente, aplicar-se a alguns problemas específicos de ditongos e de hiatos — mas isso foge ao problema específico que estou tentando esclarecer neste artigo).
Seguindo essa linha de raciocínio, percebes que homem não é acentuado porque pertence a um grupo muito expressivo de vocábulos em nossa língua: as paroxítonas terminadas em EM. Elas formam um grupo de vários milhares de palavras, do qual fazem parte (1) os substantivos terminados em -agem (selvagem, homenagem); (2) as terceiras pessoas do plural de vários de nossos tempos (fazem, estudem, fiquem, voltarem); (3) um grande número de substantivos e adjetivos com M final (homem, jovem, nuvem, virgem); etc. Ora, se uma pessoa (e quantas existem!) sente-se tentada a colocar um acento em item, só posso concluir que ela não percebeu ainda como funciona o sistema. Na verdade, ela está sonhando com uma regra que deixe sem acento homem, trazem, nuvem e virgem, mas que acentue — o que seria, agora sim, uma odiosa exceção! — o vocábulo item. Felizmente isso não é possível em nosso sistema de acentuação! Se uma palavra leva acento, todas as similares também levam (o inverso também é verdadeiro). Portanto, item e subitem não têm acento, assim como itens e subitens. Não têm e nunca tiveram; se escrevêssemos *ítem, *ítens, como muita gente gostaria, teríamos de escrever também *hômem, *hômens (o asterisco indica uma forma errada). Abraço. Prof. Moreno
P.S.: outra história é o hífen que deveria existir em subitem, mas que não é autorizado pelas escassas e confusas regras que regulam o uso do misterioso “tracinho”. Estamos condenados a escrever subordem, subitem, subestação e subeditor, embora digamos /subiordem/, /subiitem/, /subiestação/ e /subieditor/. Qualquer dia desses eu perco a paciência e vou começar a escrever “sub-item”, “sub-ordem”, “sub-editor”. Com certeza vou levar chumbo de todo o lado, mas vou morrer feliz e aliviado!
Depois do Acordo:
seqüência > sequência
freqüente > frequente
conseqüentemente > consequentemente