Lactante é quem está amamentando; lactente é quem está sendo amamentado. No animal humano, portanto, lactante é a mãe, lactente é o bebê. Parece simples, mas não é. Dos vários pares de vocábulos que se confundem, este é talvez um dos mais perigosos que andam por aí. Em primeiro lugar, porque não é comum, na estrutura do Português, pares que se distingam por uma oposição entre -ANTE e -ENTE (no vocabulário de uso geral, na verdade, este é o único que conheço). Depois — e aí a coisa fica preta —, como ambos aparecem no mesmo contexto da amamentação, a pessoa que recebe recomendações médicas pode trocar um pelo outro, com as sérias conseqüências imagináveis (medicações receitadas para a lactante — a mãe — podem ser ministradas ao lactente — o bebê, ou vice-versa). Quem emprega esses vocábulos deve estar consciente de que a maioria das pessoas não sabe sequer da existência de dois termos; ipso facto, deve tomar todas as precauções para evitar mal-entendidos. Médico que fala em programa de rádio, então, nem pensar: deixe os dois vocábulos para quando estiver entre seus pares.
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