Prezado professor, gostaria de saber qual é o masculino de formiga, se é formigão ou formigo, ou se esta palavra possui gênero comum-de-dois. Agradeço sua resposta. Obrigado.
Juni Caldas
Meu caro Juni: formiga é como girafa, onça, pantera — só tem um gênero gramatical (feminino), embora possa designar animais de ambos os sexos; é o que a Gramática chama de epicenos. Se for preciso distinguir entre os sexos biológicos, usamos macho e fêmea. Olha, quanto aos mamíferos, tenho certeza de que existem os dois sexos; no caso da formiga, não estou tão certo, porque, entre os insetos, as coisas nem sempre são tão bipolares assim. Tomemos a abelha como exemplo: o macho da espécie é raro e tem outra palavra para designá-lo, o zangão. Do ponto de vista gramatical, porém, abelha NÃO tem masculino (só do ponto de vista biológico). Com a formiga ocorre o mesmo: não tem masculino (a palavra); quanto à Biologia, temos de consultar um especialista. Abraço. Prof. Moreno
P.S. assaz interessante: o Português não formou o masculino de formiga porque esse não é um traço que interesse à nossa cultura. Ou melhor: não interessava; começa a haver sinais do contrário. Falando no filme AntZ — aqui traduzido para FormiguinhaZ —, um crítico de jornal diz que “o filme conta a história de uma formiga, na verdade um formigo operário neurótico, chamado Z-4195, que tenta se libertar da sociedade totalitária”. Outro afirma que “AntZ é uma pequena formiga. Ela, ou melhor, ele, visto que se trata de um senhor formigo, anseia por se libertar das suas obrigações como trabalhador”. Mais adiante: “No bar da colônia AntZ ouve, da boca de um velho formigo, uma história incrível”. Acho que concordas que o masculino, nesses exemplos, apareceu com aquela naturalidade típica do que é necessário. Deixo-te com um precioso fragmento do Carlos Drummond, extraído da crônica A Solidão do Girafo:
“Quando já não se sabe ao certo quem é varão quem é varoa, pelo menos se saiba distinguir o pavão da pavoa ou pavona, o elefanto da elefanta, o sabiau da sabiá, o cisno da cisna, o tigro da tigra, em vez de nos socorrermos do aditamento macho e fêmea. Se distinguimos gato e gata, por que não foco e foca, tamanduó e tamanduá, tatu e tatua?“
A língua agradece aos poetas; ninguém a entende como eles. A nós, só cabe admirá-los e morrer de inveja. Abraço. Prof. Moreno