Prezado Professor: é comum, nos prédios de São Paulo, depararmos com uma placa nos elevadores com a seguinte inscrição: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Está correto o uso da palavra mesmo como substituto do termo elevador, uma vez que se trata de redação oficial de órgão legislativo?
Cláudia W. — São Paulo (SP)
Prezada Cláudia: errado não está, mas concordo contigo que é um Português pedestre. Dos muitos recursos que nosso idioma oferece para a anáfora (referência a algo que já foi mencionado anteriormente — no caso, o elevador), esse emprego do mesmo é talvez o mais pobre e mais confuso. Por que não escrever, em bom vernáculo, “Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar”? Será que o ouvido da sumidade que redigiu esse texto estranhou a seqüência “se ele se”? Nessa hipótese, nosso legislador teria um ouvido mais sensível (não parece ser o caso…) que o de Machado de Assis e de Eça de Queirós: “A mãe, se ele se demorar muito” (Memorial de Aires); “Não sei se ele se terá lembrado e cumprido a promessa que me fez” (Helena);”… afiançaram-lhe todo o apoio de gente, de dinheiro e influência na corte, se ele se pusesse à testa de outro movimento” (O Alienista); “Pergunte-lhe se ele se confessa há seis anos, e peça-lhe os bilhetes da confissão!” (O Crime do Padre Amaro); etc. Para evitar o que não deveria ter evitado, terminou jogando aquele “mesmo” sobre os indefesos usuários dos elevadores.
O velho Napoleão Mendes de Almeida, às vezes tão sábio, às vezes tão equivocado, tem verdadeira ojeriza a esta forma, que combate com fina ironia, ao propor que se troque por mesmo o pronomes pessoal ela na primeira estrofe do famoso soneto de Camões sobre Jacó e Raquel, que ficaria assim:
Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia à mesma,
Que a mesma só por prêmio pretendia
Que tal? Abraço. Prof. Moreno
Depois do Acordo: seqüência> sequência
vêem> veem