Prezado Doutor: por que o adjetivo relativo ao Brasil é brasileiro, se este sufixo não é usado em nenhum outro caso para derivados de nomes geográficos?
Paula Velarco – Buenos Aires (Argentina)
Tens razão em estranhar, Paula, mas verás que há uma boa explicação para isso. Nosso idioma dispõe de vários sufixos para obter o mesmo resultado. Por exemplo, na formação de substantivos abstratos de ação (aqueles que derivam de verbos), o Português, entre outros, pode usar -MENTO (tratamento, abalroamento), -DURA (andadura, varredura), -ÇÃO (descrição, provocação) ou -AGEM (passagem, regulagem). Não existe um padrão que determine qual desses sufixos vamos usar; a seleção se dá, caso a caso, por critérios que ainda não foram bem estudados. O mesmo vai ocorrer com os adjetivos gentílicos. Nossos sufixos mais produtivos para esse fim são -ANO, -ENSE e -ÊS, mas também temos adjetivos em -INO, -ISTA, -ÃO, -ITA e -ENHO, entre outros:
–ENSE: amazonense, catarinense, maranhense, rio-grandense (é o mais usado nos gentílicos brasileiros).
-ÊS: português, chinês, neo-zelandês, calabrês, holandês.
–ANO: americano, italiano, californiano, baiano, boliviano.
–INO: belo-horizontino, bragantino, argelino, marroquino, londrino, florentino.
–ÃO: alemão, lapão, afegão, catalão, coimbrão, gascão, parmesão (de Parma).
–ITA: israelita, iemenita, moscovita, vietnamita
–ENHO: costa-riquenho, hondurenho, porto-riquenho (de topônimos do Espanhol).
–ISTA: santista, paulista, campista (raro).
O sufixo -EIRO, por sua vez, é muito usado para indicar profissão ou atividade: jornaleiro, sapateiro, cabeleireiro, ferreiro. É por isso que os nascidos no Brasil são brasileiros (e não brasilianos ou brasilenses): essa era a denominação dos que trabalhavam, nos primeiros dias do Descobrimento, na extração do pau-brasil, e passou a designar todos os que nasciam aqui nesta terra. Da mesma forma, chamamos de mineiros os que nascem no estado de Minas Gerais, palavra que já existia como profissão. Como podes ver, gentílicos com a terminação -EIRO são muito raros e não devem chegar a meia dezena. Não me admira que tu, falante nativa de outro idioma, tivesses percebido a estranheza dessa formação. Abraço. Prof. Moreno