software/hardware
Estamos finalizando um folheto publicitário e deparamos com uma dúvida atroz: na frase “O Governo Federal adota vários softwares produzidos por esta empresa”, aquele plural está correto? Meu chefe disse que não existe o plural de software, assim como também não existe o de hardware. ciO cliente está correto?
Luciana G. — São Paulo
RESPOSTA — Prezada Luciana, o Inglês já tem o plural softwares; embora os puristas da Informática defendam a existência apenas do singular, este plural passou a ser empregado largamente a partir do momento em que o vocábulo passou a ser usado como sinônimo de “programa de computador” (como mostra muito bem o teu exemplo). Só para teres uma idéia, hoje (maio de 2010) hardwares cravou mais de dois milhões ocorrências no Google, enquanto softwares — abre bem os olhos! — bateu bem mais de cem milhões de ocorrências. O teu chefe disse que “não existe”? Ele não entende nada de linguagem. Ele poderia alegar, isso sim, que o uso técnico recomenda o singular — mas até isso, como podemos ver por estes números astronômicos, já está ficando discutível.
correios?
A EBCT usa, até no seu símbolo, o nome correios, mas o Aurélio não apresenta essa palavra. Aliás, define correio como sendo a repartição pública que recebe e expede correspondência. Perguntando à empresa, ela respondeu que o correto é mesmo correios. Afinal, qual é o certo?
Pedro B. – Natal
RESPOSTA – Ô, Pedro, o Aurélio registra o singular — o que não significa que o vocábulo não possa ter plural! O nome da empresa, se notaste, usa o plural em correios e em telégrafos desde a proclamação da República, o que parece indicar que desde aquela época o conceito engloba vários tipos de correio — talvez correio aéreo, correio terrestre, correio militar, assim como hoje falamos de correio-papel, de correio-eletrônico, etc. Se a empresa diz que é assim, assim é; o que o dicionário registra vale para a palavra, não para a pessoa jurídica. Da mesmas forma, temos as Lojas Americanas, as Casas Pernambucanas, e por aí vai a valsa.
histórico-geográfico
Eu gostaria de saber se está correto o plural de histórico-geográfico na frase “O geógrafo pediu vários levantamentos histórico-geográficos da região”.
Elianai C.
RESPOSTA – Prezado Elianai, qualquer adjetivo composto de dois outros adjetivos só pode flexionar no seu segundo elemento: clínicas médico-cirúrgicas, levantamentos histórico-geográficos, etc.
microempresa
Professor, aqui no trabalho estamos com uma dúvida cruel. Meu chefe insiste em colocar no site da empresa o termo micros empresas. Aprendi que não usamos prefixos no plural. E agora?
Keli O.
RESPOSTA — Keli, o vocábulo é microempresa – tudo junto, sem hífen e sem espaço. Como é que vamos enfiar um S de plural ali no meio? Impossível. O plural é microempresas; agora, ninguém é obrigado a escrever as palavras da maneira correta, especialmente os chefes…
dias da semana
Gostaria de tirar uma grande dúvida com relação ao plural dos dias da semana. O correto é segundas-feira ou segundas-feiras?
Sônia A.
RESPOSTA – Prezada Sônia: todos os sábados, domingos, todas as segundas-feiras, terças-feiras — e assim por diante.
4ª-feira
Gostaria de saber se, quando escrevo “todas as 4ªs feiras”, devo passar tanto o numeral quanto feira para o plural.
Irma M. — Lins (SP)
RESPOSTA – Cara Irma, tua dificuldade nasce do fato de usares essa bizarra combinação de abreviatura numérica com a flexão natural do vocábulo por extenso. Por que não quartas-feiras? Quando o ordinal for um dos elementos constitutivos de substantivo composto, não deve receber a abreviação de simples numeral. Vais escrever primeiro-ministro, mas nunca 1º-ministro; vais escrever “Tenho ensaio todas as quartas“, mas nunca “Ensaio todas as 4ªs“.
plural no adjunto adnominal
Caro professor Moreno, meu filho pediu-me que passasse a frase “Não havia água mais fresca e gelada que água de cacimba” para o plural. Respondi que devia ser “Não havia águas mais frescas e geladas que águas de cacimbas” — e o danado disse que errei, pois cacimba não deve ir para o plural. Ele está certo?
Sandro
RESPOSTA – Um dia, Sandro, isso começa a acontecer conosco e não pára mais: os filhos começam a saber mais do que a gente. Ele tem razão; muito, mas muito raramente se justifica a pluralização do adjunto adnominal ligado por preposição: casa de sapê, casas de sapê; floco de neve, flocos de neve; pastel de forno, pastéis de forno; água de cacimba, águas de cacimba.
ponte-rolante
Surgiu uma dúvida, aqui na empresa, sobre o plural de uma palavra composta, ponte-rolante. Eu flexionei como pontes-rolantes porque a regra diz que substantivo e adjetivo variam em gênero e número. Mas a maioria concordou que o plural seria pontes-rolante. Quem tem razão?
Cláudio R. S.
RESPOSTA — É uma triste constatação, Cláudio, mas geralmente a maioria não tem razão. O raciocínio correto é o teu: compostos de substantivo+adjetivo flexionam em ambos os elementos: pontes–levadiças, onças–pintadas, pontes–rolantes.
mercado-nicho
Professor, aprendi que, num composto de substantivo+substantivo, só o primeiro irá para o plural quando o segundo servir apenas para indicar a finalidade do primeiro: navio-escola, navios-escola. E quando eu escrevo, por exemplo, “o valor das ações nos mercados-nicho“, trata-se do mesmo caso? E precisa deste hífen?
Maristela M.
RESPOSTA – Prezada Maristela, mencionaste corretamente a regra que se aplica neste caso: quando o segundo elemento de um composto substantivo+substantivo indicar finalidade, só o primeiro vai flexionar. Além disso, embora se trate de um mostrengo vocabular, deves usar o hífen: palavra-chave, palavras-chave; mercado-nicho, mercados-nicho. É bom que saibas, no entanto, que não existe regra para isso. O uso do hífen com prefixos foi regulamentado, mas o resto — como o presente caso — ainda é uma Terra de Ninguém. Basta ver as grafias ponto e vírgula e ponto-e-vírgula, entre as quais se dividem até hoje os gramáticos e dicionaristas (gente que, como era de se esperar, deveriam ter mais certeza ao escrever).
gaze
Trabalho na área da saúde como intrumentadora cirúrgica em um hospital; um dia desses surgiu uma dúvida, e meus colegas me encarregaram de encontrar resposta… Qual é o plural de gaze? Alguns dizem que não existe, outros que seria gazes; outros simplesmente contornam o problema e dizem compressas de gaze — e ninguém quer cometer um erro, já que os cirurgiões adoram corrigir as pessoas “inferiores”.
Luciana V. – Sorocaba
RESPOSTA – Minha cara Luciana, o plural de gaze (registrado, inclusive, no Houaiss) segue a norma de qualquer substantivo terminado em “E”: gazes. O que talvez os médicos estranhem é o uso do plural em um substantivo que é geralmente “de massa”, não-contável — como algodão. Este também tem plural, mas raramente temos a oportunidade de empregar algodões (como arrozes, açúcares, méis, etc.), a não ser quando nos referimos a vários tipos da mesma substância (“Os algodões da Ásia são diferentes dos algodões do Brasil”). No teu trabalho, no entanto (principalmente se a gaze e o algodão presentes na sala de cirurgia obedecerem a dimensões padronizadas), acho perfeitamente adequado utilizar esses vocábulos de maneira individualizada: “Preciso de uma gaze“, “Um algodão só não vai ser suficiente”, “O doutor esqueceu duas gazes e três algodões dentro do paciente”.
viés
Professor Moreno: por gentileza, estimaria saber o plural de viés. Fica assim mesmo, ou recebe alguma terminação?
Alice Rosa
RESPOSTA — Minha cara Alice, o plural é vieses — como revés, reveses ou convés, conveses.
o quadrado dos catetos
Deixando de lado a matemática e pensando friamente nas concordâncias de nosso Português, qual a forma correta? Espero que Pitágoras não revire em seu túmulo, mas a hipotenusa é igual à raiz quadrada da soma do quadrado dos catetos ou da soma dos quadrados dos catetos.
Emerson O.
RESPOSTA — Meu caro Emerson: nada impede que se use o plural, como se vê bastante nos livros de Matemática (“a soma dos quadrados dos catetos”). Parece-me, no entanto, que nossa língua prefere usar simplesmente o singular, quando se refere a vários possuidores do mesmo item. “O nariz dos indianos é afilado”, “A boca das espanholas é mais vermelha”, “Isso ficou para sempre no coração dos brasileiros“. Da mesma forma, “a área dos triângulos”, “o quadrado dos catetos”, “a base dos cilindros”. É uma questão que hoje ainda divide os falantes em dois grupos quase iguais, mas acho que pouco a pouco começa a prevalecer o singular.
terra natal
Oi, professor! Qual seria o plural correto da frase “No inverno a pessoa volta para sua terra natal”? Seria “as pessoas voltam para sua terra natal” ou “para suas terras natais”?
Camilla
RESPOSTA — Ora, Camilla, a tua pergunta, na verdade, não é sobre o plural, mas sim sobre a necessidade de flexionar a expressão que se refere a muitas pessoas. “Os esquimós coçam o nariz“, “os torcedores do Flamengo saíram com a alma lavada” — notaste como usamos o singular? Portanto, “Os dois amigos vão voltar para sua terra natal” — mesmo que um volte para a Inglaterra e o outro para a França
baleia-franca
1) Tenho uma dúvida que não quer calar! O plural de baleia franca é baleias franca, certo?
Jaqueline – Imbituba (SC)
RESPOSTA — O plural de baleia-franca (tem hífen!) é baleias-francas, Jaqueline; franca é, aqui, um adjetivo, e deve portanto flexionar normalmente.
2) Porém franca não é um adjetivo e sim o nome vulgar de uma espécie animal. Não quero dizer que as baleias são francas mas sim que tenho duas ou três baleias de determinado nome, entende?
Jaqueline – Imbituba (SC)
RESPOSTA — Jaqueline, franca é um adjetivo, sim, assim como azul, bicuda e branca. Por isso, no plural, ambos os elementos flexionam: baleias-francas, baleias-azuis, baleias-bicudas e baleias-brancas — assim dizem o dicionário do Houaiss e o do Aurélio. Diferente seria se o segundo elemento do composto fosse um substantivo: baleias-piloto, baleias-pamonha — nesse caso, só o primeiro elemento flexionaria. Sinto muito, mas não tens razão.
câncer
Professor Moreno, o plural de câncer é cânceres ou câncers?
Mozara T. – Porto Alegre
RESPOSTA — Prezada Mozara: não temos finais em “RS” em nosso idioma. Revólver, revólveres; mártir, mártires; câncer, cânceres.
box
Uma amiga me pede ajuda na difícil tarefa de pluralizar uma palavra estrangeira. Qual é o plural de box (local de estacionamento): boxes ou boxs? No google, eu encontrei ambas, portanto permaneço na dúvida. Desde já lhe agradeço.
Luís Augusto L.
RESPOSTA – Meu caro Luís: o ponto de partida já está equivocado. O espaço de estacionamento (assim como o “quartinho” onde fica o chuveiro) é boxe (com “E” no fim), plural boxes. Se a tua amiga insistir em escrever o vocábulo na sua grafia original (box, no Inglês), o plural estrangeiro ainda assim seria boxes. “*Boxs” não existe nem aqui, nem na Inglaterra.
meio-fio
Como é o plural de meio-fio (cordão da calçada)?
Isabel – Porto Alegre
RESPOSTA – Prezada Isabel: meio é um numeral fracionário e concorda em gênero e número com o substantivo que acompanha: meios-fios, como meias-entradas, meias-solas, meias-garrafas, é meio-dia e meia [hora].
café
Estamos diante de um impasse: os cultos dizem que o certo é cafezes. Já os leigos discordam e preferem cafés. E aí, quem ganha esta peleja? Eu fico no time dos leigos…
Amigo
RESPOSTA — Desculpa, amigo, mas jamais ouvi alguém “culto” dizer cafezes. Isso não existe, que eu saiba. Todos — os cultos e os incultos — dizem cafés, que sempre foi o plural.
tricô
Professor, qual seria o plural de tricot? Sempre ouvi falar em tricots, com “S” no final, mas será que tricotes também nao estaria certo?
Alex M. – Rio de Janeiro
RESPOSTA – Meu caro Alex, a palavra é tricô, plural tricôs. Tricot é Francês, plural tricots.
extraclasse
Professor, discutimos muito na escola e temos várias dúvidas, entre elas qual seria o plural de extraclasse. Qual o uso correto? Extraclasses? Ou a palavra fica invariável?
Luciana S. – Gravataí (RS)
RESPOSTA — Prezada Luciana: a meu ver, extraclasse fica invariável; os vocábulos com “extra” costumam flexionar porque quase sempre o elemento à direita é um adjetivo (extraconjugais, extracurriculares, extraoficiais, etc.) — o que não é o caso, aqui, em que classe é um substantivo. Portanto, se o considerarmos análogo àqueles adjetivos compostos em que um dos elementos é um substantivo (casas verde-mar, raios ultravioleta, etc.), ele não vai flexionar.
blitz
Outro dia o jornal local estampou a manchete de que a polícia havia efetuado “várias blitze“. Eu conhecia só blitz. Se já temos “ZZ” (em pizza), “TCH”, “PS”, “PN”, que mal há em ter uma palavra terminada em “TZ”? Aquele “E” foi para aportuguesar? E por que faltou o “S” do plural?
Marcus F.
RESPOSTA — Puxa, Marcus, que confusão eles fizeram! Que eu saiba, o vocábulo alemão blitz faz o plural blitzen. No entanto, o aportuguesamento (sempre benéfico) deste vocábulo dá blitze no singular, blitzes no plural. A manchete quis ficar em cima do muro e errou; que escrevessem, então, “várias blitzen” (o que 90% dos leitores estranhariam), ou “várias blitzes“.
quaisqueres?
Olá, prof. Moreno: ainda hoje estava jogando War com meus amigos e num dos cartões do jogo estava escrito: “Escolha dois territórios quaisquer“. Um de meus colegas disse que está errado e que o plural de qualquer é quaisqueres. Confesso que fiquei na dúvida apesar de nunca ter ouvido tal termo. Qual é o certo, afinal?
Felipe P. – São João da Boa Vista (SP)
RESPOSTA — Meu caro Felipe, qualquer é um pronome que tem a estrutura (particularíssima) de um vocábulo composto. O singular é formado de qual+quer; quais+quer formam o plural, que é interno. Não existem *qualqueres ou *quaisqueres.
quaisquer
Ellen, leitora de Cuiabá, tem dúvida quanto à diferença entre qualquer e quaisquer. “Possuem o mesmo significado? Como devem ser empregadas?”
RESPOSTA — Minha cara Ellen: quaisquer é o plural de qualquer. Compara “eu não tenho qualquer dúvida” com “eu não tenho quaisquer dúvidas“. Dois exemplos do Machado de Assis: “Quaisquer que fossem as cores…”; “o casamento, quaisquer que sejam as condições, é um antegosto do paraíso”.
os guarani?
José Ricardo B. Almeida, de São Paulo, diz ter lido num livro escolar uma frase que começava assim: “Os jesuítas entraram em contato com os Guarani“. Isto está certo?
RESPOSTA – Não, meu caro José — ao menos em livros escolares. Isso aí foi uma moda inventada pelos antropólogos: há uma convenção de uso, entre eles, de sempre deixar o nome das tribos indígenas no singular: “os bororo“, “os guarani“. Isso não vale, no entanto, para a linguagem das pessoas normais (como, aliás, convenções específicas usadas entre matemáticos ou químicos também não valem). Vamos escrever “os guaranis“, “os tupis“, “os tupinambás“, “os timbiras“, como sempre escreveram os nossos melhores autores (basta ler Vieira, Alencar e Gonçalves Dias, por exemplo).
Depois do Acordo: pára > para (equivocadamente, aliás)