Caro Professor, sei que o acento gráfico é usado para indicar os casos em que a pronúncia do vocábulo vai contra o que seria sua pronúncia “natural”. Correto? Então, como vamos fazer com as palavras que tinham o trema para sinalizar que o U era pronunciado? Se seguirmos o padrão de palavras como preguiça ou enguiço, linguiça vai acabar sendo pronunciada da mesma maneira. É claro que falantes nativos sabem que o U de linguiça tem som, mas como ficam os aprendizes de Português como língua estrangeira?
Daniela Santos — Montevidéu, Uruguai
Minha cara Daniela, os falantes não-nativos vão ter de consultar o dicionário para saber se o U é ou não pronunciado (como fazemos com os vocábulos do Inglês, por exemplo); para os nativos, como percebeste, a ausência do trema não vai atrapalhar.
Na verdade, os acentos de uma língua sempre interessaram muito mais aos estrangeiros; a prática de usá-los sobre as vogais foi introduzida na Grécia por um bibliotecário de Alexandria, quando o Grego se tornou a língua da cultura de toda a bacia mediterrânea. Como grande parte dos novos leitores não conhecia a prosódia daquela língua, ele teve a idéia de assinalar a sílaba tônica por meio de pequenos sinais diacríticos, inventando, assim, a acentuação gráfica.
É exatamente por isso que sempre critiquei a atual Reforma Ortográfica por ter mexido apenas em alguns acentos; na minha óptica, ou deixávamos como estava, ou evoluíamos radicalmente, eliminando todos os acentos do idioma. O que fizeram foi desfigurar um sistema que estava funcionando, em nome de uma utópica (e impossível) unificação do Português. Abraço. Prof. Moreno
Depois do Acordo: idéia > ideia