parassíntese

Professor, gostaria muito de saber qual o processo de formação da palavra infelicidade. Obrigada pela atenção.”

Andreza Santos 

Minha cara Andreza: considerando (1) que essa palavra tem uma estrutura mais do que evidente [IN+FELIZ+IDADE]; e (2) que os meus leitores jamais escrevem para perguntar o óbvio, depreendo que procuras reconstituir a ordem em que esses elementos formadores se agregaram ao radical para produzir este substantivo. Bem, ninguém pode negar que ele é formado por derivação, ou seja, para que ele nascesse, a um vocábulo já existente foi acrescentado um afixo (prefixo ou sufixo). O que é quase impossível é determinar a ordem dessa formação: de feliz formou-se felicidade, e dele formou-se infelicidade (o que seria uma derivação prefixal)? Ou de feliz formou-se infeliz, e dele formou-se infelicidade (o que seria uma derivação sufixal)? Ou temos aqui um pequeno estoque de morfemas combináveis, a que recorremos cada vez que precisamos de um derivado de feliz, sem que haja, portanto, um vocábulo que tenha surgido “antes” do outro? Já deves ter percebido que eu me inclino para esta última hipótese; as palavras de uma mesma família não têm aquela ordenação temporal da descendência de Abraão, onde se sabe perfeitamente quem gerou a quem. 

De qualquer forma, o certo é que esse NÃO é um exemplo de derivação parassintética — se era nisso que estavas pensando. Said Ali, em sua valiosíssima Gramática Histórica (está sendo reeditada!), observa que a parassíntese é um curioso processo morfológico que nosso idioma usa para produzir VERBOS a partir de substantivos ou de adjetivos; ocorre quando os dois afixos presentes no vocábulo (um prefixo e um sufixo) são acrescentados simultaneamente ao radical: a+NOIT+ecer, a+MOTIN+ar, en+RAIV+ecer (de substantivos); en+GORD+ar, a+PODR+ecer, en+DUR+ecer (de adjetivos). Cuida, porém, que já vi muito professorzinho e muita banquinha de concurso pensar que palavras como infelicidade, infelizmente, desregulado, etc. são exemplos de parassíntese. Não são, não (soa bonito!). Abraço. Prof. Moreno