Professor, minha dúvida é com o uso do particípio, tendo os verbos ter/haver e ser/estar como auxiliares. Sei que ter/haver impõem particípios regulares (“Tinha matado“, “havia gastado“). E que, com ser/estar, os particípios tornam-se irregulares: “Foi morto“, “estava gasto“. Porém, frequentemente leio nos jornais (e na fala coloquial) frases como, por exemplo, “o time tinha ganho o jogo”, ou “o homem havia pego o ônibus errado”. Gostaria de esclarecer se a regra que citei permite exceções. E se existem, em que casos. Obrigado pela atenção.” Nivaldo N. — São Paulo
Meu caro Nivaldo, os verbos que têm particípios duplos são poucos (não chegam a cem — perto dos 50 ou 60.000 verbos de nossa língua). Os gramáticos tentam fazer listas completas; contudo, se cotejares duas ou três listas, verás que há uma razoável discrepância entre elas. De qualquer forma, QUANDO HOUVER DOIS PARTICÍPIOS, funciona um princípio geral de uso: a forma longa, regular (em -ado ou -ido) é usada nas locuções verbais na voz ativa, com o auxiliar TER ou HAVER, enquanto a forma mais curta, irregular, é usada com SER e ESTAR: “Eu tinha acendido o fogo/ o fogo já estava aceso; a gráfica havia imprimido as cédulas falsas / as cédulas foram impressas no exterior”.
Nota que esse é um princípio geral. Em primeiro lugar, muitos verbos abundantes estão perdendo a forma regular, em virtude da preferência do falante pela forma mais curta em qualquer situação: “a conta já foi paga/ela tinha pago a conta”, “este dinheiro foi ganho com meu trabalho/eu tinha ganho este dinheiro com meu trabalho”. Eu ainda uso pagado e ganhado, mas percebo que meus ouvintes estranham; isso significa que, em breve, deixarão de ser abundantes e ficarão, como dizer e fazer, apenas com o particípio curto (dito, feito).
Em segundo lugar, a língua, em seus caminhos misteriosos, se encarrega de anular, às vezes, o princípio geral: é o caso de imprimir, que, se é abundante em seu sentido normal (dei exemplos acima), no sentido de “introduzir, incutir” só vai ter o particípio regular, mesmo em locução com o verbo SER: “A entrada do atacante tinha imprimido maior velocidade ao ataque/Um novo ritmo foi imprimido ao trabalho da equipe” (e não *impresso). E assim por diante; continuo a usar aquele princípio por ser didático, sabendo, no entanto, que não é absoluto.
Recomendo-te a leitura do tópico sobre pego e pegado. O que escrevi ali é um importante complemento ao que expus acima. Abraço. Prof. Moreno.