Caro Prof. Moreno, eu tenho dúvidas sobre a expressão Estado-nação. A primeira é a própria grafia — se Estado-nação, Estado-Nação ou qualquer uma destas duas formas, sem o hífen. A segunda diz respeito ao uso do plural. Eu estive lendo a sua esclarecedora explicação do plural de compostos e percebo que a expressão estaria entre aquelas formadas por [substantivo+substantivo]; parece-me, ademais, que o sentido é “Estado que é nação” (mas isto é um pouco complicado; afinal, a expressão foi cunhada pela História para se referir à unificação da Itália e da Alemanha, pelo que sei). O plural então ficaria Estados-nação? Sempre grata pela sua atenção.
Dea L.
Minha cara Dea: que palavrinha feia, essa! Olha, eu não sei exatamente tudo o que está por trás do conceito de Estado-Nação (já que Estado vai com maiúsculas, é melhor fazer o mesmo com Nação), mas eu flexionaria como Estados-Nação. Acontece que nem sempre a minha intuição concorda com a dos especialistas que usam o vocábulo. Para mim, por exemplo, um decreto-lei seria “um decreto que tem a força de lei, que a ela se equipara”; nada mais justo do que fazer o plural decretos-lei —- no que eu sou literalmente atropelado pela grande nação dos juristas, que usam exclusivamente decretos-leis.
Isso se entende facilmente: há uma forte tendência a tratar como formas variáveis ambos os elementos dos composto do tipo [substantivo + substantivo]: em vez de horas-aula, palavras-chave, folhas-padrão, que é a flexão canônica, cada vez mais aparecem formas como “horas-aulas”, “palavras-chaves”, “folhas-padrões”. É tal a incidência dessas últimas (e desengonçadas) flexões que já dá para perceber em que direção o quadro está avançando. Contudo, se mais uma vez temos aquela oportunidade de escolher entre duas formas, continua valendo o princípio fundamental: o estilo é a soma de nossas opções. Quem usa Estados-Nação, horas-aula, palavras-chave revela bom gosto e sensibilidade lingüística; os outros, não. Abraço. Prof. Moreno
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