Pontuação: charadas resolvidas

1) Um navio holandês entrava no porto um navio inglês — Essa frase não deve ser pontuada; entrava não é do verbo entrar, mas sim o presente do indicativo de entravar. Seria algo assim como “Um navio holandês atrapalha no porto um navio inglês”. Se quiseres, podes colocar “no porto” entre vírgulas, por se tratar de um adjunto adverbial deslocado, ou deixá-lo assim mesmo, devido à sua pequena extensão.

2) Voar da Europa à América uma andorinha só não faz, verão — Novamente uma charada que se baseia no equívoco entre duas formas homógrafas: verão é a 3ª pessoa do plural do Presente do Indicativo de ver; nosso ouvido, no entanto, é sugestionado pelo velho provérbio “Uma andorinha só não faz verão”.

3) Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe; do fazendeiro era também o pai do bezerro — Essa é de Almanaque do Biotônico. O fazendeiro tinha um bezerro e a mãe [do bezerro — entenda-se: Dona Vaca]; o pai do bezerro [o touro] era também do fazendeiro. A construção é caprichosa, mas vale a intenção.

4) a charada das três irmãs

Veja como o namorado indeciso entre as três belas irmãs pontua seu poema de quatro maneiras diferentes:

a) O poeta confessa seu amor por Soledade:

Se consultar a razão,

digo que amo SOLEDADE.

Não Lia, cuja bondade

ser humano não teria.

Não aspiro à mão de Iria,

que não tem pouca beldade.

b) O poeta confessa seu amor por Iria:

Se consultar a razão,

digo que amo Soledade?

Não! Lia, cuja bondade

ser humano não teria?

Não! Aspiro à mão de IRIA,

que não tem pouca beldade.

c) O poeta confessa seu amor por Lia:

Se consultar a razão,

digo que amo Soledade?

Não! LIA, cuja bondade

ser humano não teria.

Não aspiro à mão de Iria,

que não tem pouca beldade.

d) O poeta está hesitante entre as três:

Se consultar a razão,

digo que amo Soledade?

Não Lia, cuja bondade

ser humano não teria?

Não aspiro à mão de Iria,

que não tem pouca beldade?

Não sei quem é o autor da charada. Eu a encontrei nos excelentes Exercícios de Português, de M. Cavalcanti Proença, escritos no fim da década de 50 para os cursos de oratória e redação da Academia Militar das Agulhas Negras, famosa pela qualidade e pelo rigor de seu ensino de Português. Quando me falam na necessidade de “preparar quadros”, cito sempre esse exemplo da AMAN — e aí ficam brabos comigo! O que queriam? Qualidade sem esforço?