Professor, lembro que nos meus áureos tempos de estudante (e eles já se vão um tanto longe), eu costumava usar a grafia porisso, nunca tendo sido contestado pelos meus mestres. Todavia, hoje, várias vezes já chamaram a minha atenção, dizendo que porisso não existe e que, em seu lugar, eu deveria usar por isso. Será que isto procede?
Edilberto P. L. — São Paulo
Meu caro Edilberto: nunca foi correto usar *porisso. Na verdade, trata-se de uma locução formada pela preposição POR mais o pronome ISSO; se fossem juntáveis, teríamos também as horripilantes formas *poristo e *poraquilo, com a mesma composição. Se teus mestres não estrilavam, é porque talvez não tenham notado. Tiveste mais sorte que juízo.
Agora, se te serve de consolo, escrever *porisso, sem o espaço, é um daqueles erros naturais, isto é, um daqueles erros que cometemos com mais freqüência por existir uma força que nos empurra perigosamente em sua direção — mais ou menos assim como a gravidade nos ajuda a cair quando estamos aprendendo a caminhar. Trata-se aqui da hesitação em usar ou não o espaço em branco, um dos importantes (e muitas vezes esquecido) componentes do sistema da escrita. Há uma forte hesitação na hora de grafar esta e outras locuções, uma vez que é difícil, em muitos casos, determinar se estamos diante de elementos múltiplos, que devem ser grafados individualmente, ou se eles já são percebidos pelo sistema como um vocábulo único. Se olhares com um pouco mais de atenção, não vais deixar de notar que vocábulos como porventura, depressa, devagar foram, um dia, expressões formadas por uma preposição mais um substantivo. Não estranhes, portanto, que se tente escrever *porisso, *apartir ou *derrepente, erros que encontro por toda parte. Abraço, e olho vivo! Prof. Moreno
Depois do Acordo: freqüência > frequência