Na minha tese, na seção em que faço a revisão de literatura especializada, utilizo sempre o presente do indicativo, independente da época da publicação. Ex.: “Borges (1988) estuda os implantes ósseo-integrados e verifica que os mesmos são uma alternativa viável para a reabilitação de pacientes edêntulos”. Fui informado que isto se chama presente histórico e é utilizado em trabalhos acadêmicos. Há outras justificativas?
André P.
Meu caro André: o tempo que empregaste está mais do adequado. Alguns diriam que esse é o famoso presente histórico, ou presente narrativo, que pode ser usado no lugar do pretérito (“Em 58 a.C César invade a Gália e inicia uma das mais famosas campanhas da história militar”). Pode ser; é defensável, e te garante contra qualquer investida da banca. Acho que aqui, no entanto, poder-se-ia traçar uma sutil diferença. Podemos entender que, no caso, não estás dizendo que, em 1988, alguém chamado Borges estudou o problema: estás falando do texto, e não propriamente de seu autor. Em outras palavras: quando dizes “Borges (1988) estuda”, não estás te referindo ao fático, ao pesquisador e à sua ação de estudar (que pode, inclusive, ter ocorrido em 1987), mas sim ao texto identificado na bibliografia médica como Borges (1988) — e este texto estuda, e vai continuar assim, para todo sempre. Nota que essa “personificação” de um determinado trabalho acadêmico é o que justifica a concordância com o masculino, mesmo quando se trata de uma autora: “Neste particular, Mary Kato (1983) é muito mais completo e exemplificativo”. Mutatis mutandis, é a concordância que fazemos com os títulos das obras: “Falando de Machado, o crítico dizia que Helena era romântico, enquanto Iaiá Garcia era melancólico“. De qualquer forma, estás amparado para o que der e vier. Abraço, e boa sorte. Prof. Moreno