Fernão P., de São Paulo, queria saber como se deve ler a marca alemã BMW: é /bê-ême-dáblio/ ou /bê-ême-vê/? Na resposta que lhe enviei, recomendei a pronúncia /bê-eme-dáblio/, baseado no que escrevi em o nome do Y e do W. Afinal, é o nosso hábito ignorar a origem das siglas estrangeiras e atribuir-lhes uma leitura genuinamente nacional. Já falei nisso alhures, a propósito de CD (Compact Disc) e de LP (Long Playing), que entraram aqui pronunciadas como qualquer vocábulo nosso — /cedê/ e /elepê/ — e não /cidi/ ou /elpi/, como soam no Inglês.
Foi o que bastou: dois habituais correspondentes escreveram para reclamar da pronúncia à brasileira. Ambos — Alfredo Boeira e Glenda Chaves — sustentam que a pronúncia deve seguir o Alemão, idioma nativo desta marca de carro: /bê-em-vê/. Além disso, ambos (parece coisa ensaiada!) jogam em cima de mim o exemplo do simpático DKW, carro dos anos 60, que a maioria chamava de “dê-cá-vê“, e não “dê-cá-dáblio“. Admito que o exemplo calou fundo, e sou obrigado a aceitar a mesma coisa também para o BMW. No entanto (não achavam que ia ser assim tão fácil, não é?), contesto que as pessoas que dizem /bê-eme-vê/ o façam por fidelidade à língua alemã. Em primeiro lugar, lêem o M como /eme/, e não como /em/, como no Alemão; em segundo lugar (e muito mais importante!), não usam aqui o nome da letra no Português (dáblio) pela simple razão, que só agora me ocorreu, de que lemos o W de todas as siglas como /vê/: WC, para water closet, deveria ser lido /dâbliu-ci/, seguindo o Inglês, ou /dáblio-cê/, seguindo o Português, mas aqui é /vê-cê/ mesmo; WO, para walkover (no Inglês, uma corrida em que só há um cavalo inscrito e que só tem de cumprir a formalidade de caminhar pela pista, até ultrapassar a linha de chegada), deveria ser lido /dâbliu-ou/ ou /dáblio-ó/, mas aqui é /vê-ó/ mesmo. Ou seja: o nosso uso não segue exatamente o que a lógica indicaria, e sabemos que, em confrontos desse tipo, o uso é sempre soberano. Eu continuo pronunciando o nome de cada letra, em Português (/bê-eme-dáblio/), mas começo a sentir que essa não é a música que a maioria está dançando. Sou obrigado a admitir que a leitura /bê-eme-vê/, longe de ser estrangeira, também tem raiz nos hábitos e costumes de nosso idioma e, pelo que conheço de Lingüística, vai terminar suplantando a outra, que é mais lógica do que intuitiva. Abraço para todos. Prof. Moreno
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