Caríssimo Doutor, sou um apaixonado pela língua portuguesa e, de fato, sempre fui um ótimo aluno na disciplina. Porém, reconheço que praticamente nada sei e que muito tenho a aprender. Gostaria de saber se existe uma forma correta de pronunciar nomes como Jaime ou Roraima — isto é, se a primeira sílaba deve soar como /ja/ ou como /jã/.
Pedro G. — Porto Alegre
Meu caro Pedro: NÃO existe regra sobre a pronúncia do Português, o que, aliás, facilmente se explica: na evolução da espécie humana, a fala precede, em centenas de milhares de anos, a escrita. Esta sim, por ser uma simples convenção entre as pessoas que a utilizam, pode ser objeto de um sistema de regras (o qual, no Brasil, já foi modificado várias vezes). A Fonologia e a Fonética estudam “como” as pessoas falam, descrevendo os fenômenos com a mesma imparcialidade que a Biologia tenta descrever as formas de vida. Por isso, assim como não se pode falar de certo e errado na Natureza, não existe uma forma de determinar o que é certo ou errado na pronúncia (como algumas sumidades andam fazendo por aí, exatamente por lhes faltar um maior embasamento lingüístico). Posso, isso sim, apontar diferenças regionais de pronúncia (um bom exemplo é o /s/ final no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, completamente diferentes), ou comparar pronúncias que são sociolingüisticamente condicionadas (fala popular x fala culta, fala infantil x fala adulta, etc.).
No caso específico da tua pergunta, Pedro, há duas maneiras de pronunciar aquele /a/ antes de nasal: eu digo /câma/, /jâime/ e /rorâima/, mas /jánaína/ e /bánana/. Caetano Velloso diz /bânana/, e não sei como pronuncia Roraima ou Jaime. O pessoal da Rede Globo gosta muito de /roráima/ e de /jáime/. Lembro-te que essa variação é muito mais comum do que se pensa; um leitor sergipano escreveu para dizer que se espantou quando leu, aqui no Sua Língua, que o O, apesar de ser aberto em porta, fechava nos seus derivados (porteiro, portaria, portal, etc.): para ele e seus amigos, a prática é dizer /pôrteiro/, mas /pórtal/ e /pórtaria/!
Por isso, cada um de nós escolhe a maneira de falar; isso vai nos identificar tanto quanto roupa que preferimos vestir ou a comida com que procuramos nos alimentar. Eu sou gaúcho, e tento falar, vestir e comer como gaúcho — mas é apenas uma questão de escolha pessoal. Abraço. Prof. Moreno
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