Caro Prof. Moreno: recentemente uma amiga prestou vestibular e, após a prova, me contou que tivera que escrever uma dissertação em prosa. Até onde sei, as duas formas são incompatíveis. Inclusive foi dito a esta amiga que dissertação é escrita em primeira pessoa e a outra em terceira. Achando tudo isso muito estranho, resolvi escrever-lhe. Ilumine-me.
Bruno G. — Itajubá (MG)
Meu caro Bruno: todas as dissertações são em prosa! Quando a banca especificou “dissertação em prosa”, ela queria evitar que os candidatos tentassem se expressar de forma poética, como alguns tentam fazer. Só isso. Para prazer de todos nós, lembro-te aquele famoso diálogo entre o burguês e o professor, na genial comédia O Burguês Fidalgo, do grande escritor francês Molière. No Segundo Ato, o personagem-título, um novo-rico, toma aulas de Gramática para poder ascender socialmente. O mestre diz-lhe que eles vão estudar o verso (poesia), mas o ignorante Monsieur Jourdain (este é o nome da fera) diz que isso ele já conhece:
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- MESTRE – O senhor quer então só a prosa?
- M. JOURDAIN – Não, nem prosa, nem verso.
- MESTRE – Mas vai ter de ser um dos dois.
- M. JOURDAIN- Por quê?
- MESTRE – Pelo simples fato, Monsieur, de que só podemos nos exprimir em prosa ou em verso.
- M. JOURDAIN – Só existem esses dois?
- MESTRE – Monsieur, tudo o que não é prosa é verso; e tudo o que não é verso é prosa.
- M. JOURDAIN — E qual dos dois é, quando a gente fala?
- MESTRE — É prosa!
- M. JOURDAIN — O quê? Quando eu digo “Nicole, traz minhas pantufas e me alcança o meu barretinho”, isso é prosa?
- MESTRE — Sim, Monsieur.
- M. JOURDAIN — Mas olha só! Há mais de quarenta anos que eu faço prosa e nem sabia! Obrigado, professor: sem o senhor, eu não teria descoberto!”
Como vês, toda a redação feita em concursos, em vestibulares, em provas de seleção, será feita em prosa. O uso da primeira ou da terceira pessoa nada tem a ver com isso. Abraço. Prof. Moreno