Caro Professor Moreno: sou jornalista, adoro línguas e sempre que posso passeio pelas páginas do Sua Língua. Estou colaborando com um site de curiosidades e recentemente fiz uma pesquisa sobre a sigla SOS. Obtive, porém, algumas informações um pouco diferente das que o senhor encontrou: a sigla SOS não significa, como muita gente pensa, “save our souls” (salvem nossas almas), nem “save our ship” (salvem nosso barco). Este sinal de perigo, estabelecido em julho de 1908 em uma convenção internacional de radiotelegrafia, não remete a nenhuma frase específica. A escolha das letras aconteceu por conta da facilidade de enviá-las e reconhecê-las em código Morse: SOS é representado por três pontos, seguido de três traços e novamente três pontos. Até então, no mar, os navios em perigo pediam por socorro usando as iniciais CQD. Professor, encontrei essas informações em textos que falam sobre a história da telegrafia e acredito que elas sejam fidedignas. Aguardo seu parecer. Abraços. Marina Vidigal
Minha cara Marina: até receber esta tua mensagem, eu fazia parte daquela “muita gente” que pensa que SOS é a sigla para “save our souls“; fui no rastro da tua informação e descobri que eu estava completamente enganado. Realmente, o primitivo pedido de socorro, usado pelos navios em perigo, era CQD (CQ era o sinal usado para chamar todas as estações, em geral; D era a letra acrescentada para indicar “distress“, aproximadamente “situação de perigo”). No conhecido episódio do Titanic, por exemplo, o radiotelegrafista transmitiu várias vezes o CQD, passando depois a intercalá-lo com o SOS, que ainda não era muito difundido.
SOS foi escolhido por um comitê internacional, em 1908, por causa da facilidade de sua transmissão, que podia ser realizada mesmo por um operador sem treinamento — em código Morse, o S corresponde a três pontos, e o O corresponde a três traços. Durante a 2ª Guerra, algumas marinhas adotaram a modificação SSS sempre que se tratasse de ataque por submarino, a fim de avisar os navios de socorro do perigo oculto sob as águas.
Na verdade, o sinal de SOS, além de não representar as iniciais de palavras, como pessoas simples como eu pensavam, nem mesmo letras representa: para não ser confundido com nenhuma outra seqüência de caracteres, o sinal deve ser transmitido numa seqüência ininterrupta, sem os espaços que o código Morse intercala entre as letras. Usando a convenção do Morse falado (/di/ para ponto e /da/ para traço), o sinal soa como /di-di-di-da-da-da-di-di-di/, e não /di-di-di … da-da-da … di-di-di/. É uma pena; eu conhecia várias versões sobre a verdadeira frase oculta nas três iniciais, além de “save our souls“: “save our ship” (salvem nosso navio); “stop all signals” (cessem todas as transmissões); “send out succor” (enviem socorro); agora, tudo fica reduzido a uma simples série de dis e de das. Como disse Thomas Huxley, falando da Ciência: é trágico quando os feios fatos matam uma bonita teoria. Abraço. Prof. Moreno
Depois do Acordo: seqüência > sequência