Statu quo é uma redução da expressão latina in statu quo ante, que significa, literalmente, “no mesmo estado em que se encontrava antes”. A diplomacia teria sido o principal responsável pela difusão da expressão, empregada principalmente para referir-se às condições em que tudo se encontrava antes de determinado fato. Por exemplo: duas nações que se engajam numa guerra de fronteiras podem concordar em cessar fogo desde que as duas partes voltem ao statu quo ante — entenda-se, às posições territoriais que ocupavam antes do início do conflito (notem que aqui, devido à idéia temporal, o advérbio latino ante pode ser usado, se quisermos).
Pouco a pouco, esta expressão, além de “estado anterior”, passou também — e principalmente — a significar o estado atual, a situação vigente, ou, no jargão dos anos 60, o sistema. É o que vemos nas frases abaixo:
Enquanto Marat e Sade são personagens pró-revolução (Marat na revolução externa, política, e Sade, na interna, erótica), Napoleão é o reacionário, que representa o statu quo.
As tendências da esquerda brasileira e seus aliados ainda agem, infelizmente, como se a agremiação devesse limitar-se a contestar o statu quo, tal como ocorrera até o final dos anos 70.
Estranhamente, diz o dicionário Aurélio-XXI que a forma status quo seria preferível a statu quo. Essa é também a lição de alguns dicionários ingleses, mas não tem qualquer razão de ser. Na expressão latina completa — in statu quo ante —, a palavra status (em Latim, “o estado”) não aparece no nominativo, mas no ablativo statu, e como tal deve figurar na forma reduzida. Para quem perdeu o seu Latim, acrescento: teríamos status se a palavra fosse aqui o sujeito; contudo, temos statu porque é um adjunto adverbial (que corresponde, grosso modo, ao ablativo latino).
Status, usado isoladamente, é vinho de outra pipa: é um latinismo usado até na linguagem coloquial, com o significado de (1) situação, estado ou condição ou (2) grau elevado de distinção e prestígio social:
São Paulo estuda a possibilidade de reivindicar o status de cidade internacional.
Há dois anos apenas, portar um telefone celular era um indiscutível símbolo de status.
Tanto statu quo, quanto status, devem ser colocados entre aspas ou escritos em letra de destaque (itálico ou negrito). Agora, faço questão de reproduzir a cáustica advertência dos irmãos Fowler para quem gosta de empregar expressões latinas: “Ninguém deve usá-las se não tiver certeza de que não estará, assim, apenas proclamando sua ignorância”.
Depois do Acordo: idéia > ideia