Caríssimo Prof., sou revisor de textos de um conceituado colégio aqui em Recife. Por esses dias, deparei com um material, para ser mais preciso, uma atividade da educação infantil, e fiquei na dúvida se é toda vez que ou toda vez em que. O enunciado era o seguinte: “Pinte a palavra baleia TODA VEZ em/que ela aparecer”. Eu acho que é toda vez em que, porque eu posso substituir por toda vez na qual. Um abraço.
Antônio — Recife
Caro Antônio: os escritores modernos usam, à sua escolha, tanto toda vez em que quanto toda vez que. Nada contra a primeira forma, mas a segunda, a meu ver, é muito mais agradável ao ouvido atual — aliás, seguindo a tendência intrínseca do Português de eliminar, pouco a pouco, as preposições nesse tipo de locução. No entanto, para que alguém não venha dizer que essa supressão corriqueira da preposição é modernice, lembro-te que Rui Barbosa (e olha que desconheço algum autor mais conservador do que ele, no séc. XX) só usava a segunda forma. No estilo inconfundível deste autor, mostro abaixo alguns exemplos, para ilustração:
“Demasias desta gravidade hão de provocar a reprovação geral, toda vez que se recordarem”; “Fugindo de antecipar, ou contrariar a opinião geral, mostrar-se-á respeitoso e confiante no sentimento público, toda vez que se produza calma e legalmente”; “Toda vez que o governo se arma de restrições contra esta, é que menos confia naquela”; “Toda vez que reunirdes numa eminência um congresso de espíritos eleitos, e lhe conferirdes, com o dom de uma tribuna privilegiada, o cetro da lei sobre uma sociedade, essa instituição acabará fatalmente por ser o modelo do povo, que lhe obedece”; “Toda vez que a um libelo argumentado virdes responder um serventuário da nação, abespinhado e desabrido, com escavações infectas contra a honra do acusador, podeis estar certos de que assistis ao duelo da calúnia com a probidade”. Como podes ver, este é um Português vestido no capricho, com casaca, cartola e polainas — e lá já está o toda vez que. Abraço. Prof. Moreno